A hipótese fora adiantada por várias vezes durante a semana e nesta sexta-feira, ao início da tarde, foi dada como uma certeza pela edição online de um jornal desportivo: Marco Silva ia deixar de ser treinador do Sporting. Pouco menos de quatro horas depois, Bruno de Carvalho apareceu na Sporting TV para desmentir a notícia, classificando como descabida a informação que dava conta da ruptura com o técnico e rejeitando a existência de qualquer crise, mas não negando que tenha havido uma “reunião normal” no início da semana com a equipa técnica para serem discutidas “uma série de questões”.

“Houve uma reunião com a equipa técnica e administração da SAD, foram focadas uma série de questões, mas daí a eu ler que o Marco Silva saiu é tão descabido que tive de vir aqui falar com os sportinguistas. Tirou-me da minha família e não tem lógica nenhuma”, declarou o presidente do Sporting durante a sua intervenção na televisão do clube. “Numa altura que devia de ser de acalmia, isto acaba por ser preocupante. O Sporting tem as suas questões. Mas falar de crise é tão absurdo que isto só pode estar a acontecer para esconder qualquer coisa de grave em outros clubes”, frisou Bruno de Carvalho, referindo que Marco Silva estará no banco “leonino” frente ao Vitória de Guimarães na próxima segunda-feira, em jogo a contar para a Taça da Liga. “O Marco lá estará a fazer o seu trabalho em Guimarães. O Marco é o treinador do Sporting”, acrescentou.

Depois da pausa de Natal, o plantel do Sporting volta hoje ao trabalho para preparar o jogo de estreia na Taça da Liga (e que será o último dos “leões em 2014) e Marco Silva, assim, estará em Alcochete para dirigir o treino da equipa. Parece estar, pelo menos por enquanto, afastado o cenário de saída do treinador, ele que fora contratado no início da época para suceder a Leonardo Jardim e que assinou um contrato válido por quatro temporadas, sendo que um despedimento nesta altura, segundo algumas notícias, implicaria o pagamento de uma indemnização a rondar os dois milhões de euros.

O antigo técnico do Estoril tem tido uma época irregular, mas conseguiu alguns resultados meritórios — vitória no Dragão sobre o FC Porto para a Taça de Portugal e triunfo sobre o Schalke 04 na Champions, por exemplo — e tem conseguido manter a equipa em todas as frentes — quinto lugar no campeonato, a dez pontos da liderança e a quatro do segundo; presença nos quartos-de-final da Taça de Portugal e nos 16 avos-de-final da Liga Europa.

Mas, quando alguns resultados mais negativos apareceram, como a derrota em Guimarães, Bruno de Carvalho usou a rede social Facebook para criticar os jogadores. Após o jogo do último fim-de-semana, com o Nacional, Marco Silva foi questionado sobre esta forma de comunicar do presidente e respondeu com um “prefiro criticar ou elogiar cara a cara, com os jogadores presentes”, uma afirmação que terá sido entendida como uma demonstração de falta de solidariedade do treinador com a direcção e com a estrutura que dirige o futebol.

Adeptos preocupam
Na intervenção no canal do clube, Bruno de Carvalho manifestou-se preocupado com a reacção dos adeptos do clube às notícias que davam como certa a saída do treinador. “Não posso deixar de fazer a minha reflexão que um quase não assunto se tenha tornado tão relevante para os sportinguistas. A minha apreensão tem a ver com os sportinguistas e com a facilidade com que eu vi fazer-se um drama com algo que não é drama nenhum. As pessoas insistem em ser enganadas e manipuladas”, referiu Bruno de Carvalho, acrescentando que, numa altura em que o clube decretou um blackout (voto de silêncio), vai continuar a fazer o seu trabalho: “Há questões, sem dúvida nenhuma, sempre as encararei de frente mas há pessoas que trabalham 24 horas por dia no Sporting e que as enfrentam. É lógico que há a decorrer processos que são internos ao Sporting e que não tem nada a ver com as notícias que têm saído na comunicação social.”

Bruno de Carvalho disse ainda que está pronto para enfrentar a assembleia geral em Janeiro que o próprio solicitou e na qual irá pedir um “voto de confiança” aos adeptos, salientando que essa reunião não terá nada a ver com o futebol: “O clube tem a possibilidade de enfrentar os seus erros não criando nenhum género de crise. Por que é que é assumido pelos sportinguistas como uma crise? Continuo a dizer que a assembleia de Janeiro não tem nada a ver com o treinador ou a equipa, tem a ver com o projecto.”