“Gostava de entrar no top 100, mas não é uma obsessão”

Entrevista a Maria João Koehler.

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Maria João vai iniciar a nova época como a melhor tenista nacional no ranking mundial Fernando Veludo/NFactos

Depois de terminar a relação de nove anos com Nuno Marques, Maria João Koehler decidiu investir ainda mais na sua careira. Mudou a sua base de treino para o Centro de Alto Rendimento (CAR), emLisboa, rodeou-se de uma nova equipa técnica (o treinador Pedro Magalhães, que trabalhava em Barcelona, na Academia Sánchez-Casal,e o preparador físico Paulo Figueiredo) e passou a ser agenciada pela Polaris, na esperança de arranjar mais apoios para poder singrar no circuito mundial. Em vésperas de iniciar a época, no qualifying do Open da Austrália, a tenista portuguesa de 21 anos falou ao Público sobre 2013, em que esteve a dois lugares do top 100, a próxima época e todas as mudanças.

Que espera do Open da Austrália, do qual tem boas memórias?
Gosto bastante da Austrália, é o meu Grand Slam preferido e os dois únicos anos que joguei foram os meus melhores Slams até hoje. Ser o primeiro da época é uma mais-valia para mim porque vou melhor preparada, mais fresca, mais em forma. Fiz uma boa época com o Paulo Figueiredo e o Pedro Magalhães. Vou sem pressão, sei que é uma fase nova, com houve muitas mudanças. Vou para jogar o meu melhor ténis, mas se não correr tão bem como gostaria, não vou entrar em stress, tenho todo o ano para ganhar pontos. No ano passado, acho que houve dois momentos diferentes: no qualifying não me senti a jogar o melhor ténis, mas senti-me bem fisicamente e talvez por isso, agarrei-me mais ao jogo e lutei muito; com a [Jelena] Jankovic, joguei muito bem, do início até ao fim, e ainda recordo esse jogo para me lembrar de padrões e gosto de ver como jogo quando faço o que me compete (curiosamente, esta semana revi esse jogo com a Jankovic porque estive a seleccionar algumas coisas, mas não foi propositado). Mas este ano é diferente, mas claro que vou lembrar-me da experiência do ano passado e de há dois anos para tentar fazer melhor.

Gosta desses encontros com as melhores jogadoras, em que pode jogar sem pressão?
Isso da pressão… todas as jogadoras a esse nível sentem um bocadinho de nervosismo ou ansiedade quando vão jogar, independente das adversárias. Confesso que gosto de defrontar jogadoras muito boas, é por isso que jogo ténis profissional, é para estar naquela elite. Nos últimos Slams, poderia ter tido melhores sorteios, mas não acho que seja negativo. Há jogadoras, não digo acessíveis porque são todas muito duras, mas há outras mais “em conta”, os Grand Slams dão bastantes pontos e também tenho que ganhar a essas jogadoras.

Depois teve uma lesão que influenciou o resto da época…
Foi uma rotura abdominal de três centímetros que limitou-me bastante, estive oito semanas sem poder servir e quando voltei ainda tinha fibroses. Foi sem dúvida um ponto de viragem negativo na época. Depois, o facto de só jogar torneios do WTA Tour, perdi jogos duros, fui perdendo confiança, também andava sozinha e isso não ajudou. Sinceramente, a nível pessoal foi um ano frustrante, mas acabei como 131.ª e há boas perspectivas para o futuro. Foi também o primeiro ano em que joguei quase só no WTA Tour, tive que me habituar ao nível e com a lesão, viajar sozinha, gostar de ter o Nuno presente e isso não se ter verificado, essas coisas reflectiram-se.

Sentiu muita diferença entre os circuitos ITF e WTA?
Há uma diferença muito grande. O primeiro que joguei foi mesmo antes de Wimbledon [em Junho] e depois em Agosto porque tinha muitos pontos a defender. Joguei sempre com jogadoras muito cotadas mas também não sentia que estava a jogar o melhor ténis e a perder, o que seria preocupante, porque já tinha esgotado as minhas capacidades. Foi um ano de transição para esse nível e agora estou melhor preparada.

Terminou o ano com quatro derrotas consecutivas. Já estava saturada?
Foi um ano difícil em todos os aspectos. Ia jogar em Quebeque a seguir ao Open os EUA, mas tive uma amigdalite; em Sevilha, magoei-me no pulso (que agora se reflecte na pré-temporada, estou com dores), mas são uma selva porque são os últimos torneios, há muitas jogadoras a querer qualificarem-se para a Austrália. O Nuno foi comigo e num desses torneios decidimos separar-nos e não joguei mais, talvez sim, porque estava um bocadinho saturada… muitas coisas influenciaram.

Como lidou com a separação do Nuno Marques?
Foi uma decisão mútua, chegámos à conclusão que, estando as coisas como estavam, era difícil dar o salto que queríamos dar. Viajar 20 semanas sozinha, neste nível, em que a diferença foi um clique mental que me faltou – e se o Nuno estivesse lá poderia ter ajudado bastante a ultrapassar –, percebemos que o acompanhamento é essencial e o Nuno não poderia fazê-lo, embora não tenha sido o único motivo. O Nuno vai ser sempre o responsável pelo meu sucesso e a nossa relação pessoal continua igual e tenho a certeza que quer que eu seja bem sucedida. Numa altura esteve a ajudar-me e a aconselhar-me mas não indicou o nome do Pedro. Eu queria muito continuar em Portugal, mas não estava a ver outra alternativa, sondei uma ou outra pessoa. Quem me falou no Pedro foi o Frederico Marques [treinador do João Sousa] porque eu também vi hipóteses em Espanha, mas fazia-me muita confusão ir para uma Academia comercial. Estive nove anos com o Nuno, 14 no Clube de Ténis do Porto (CTP) e queria uma coisa mais individualizada, achei que era a altura certa para investir a cem por cento na minha carreira. Tive uma proposta do [Patrick] Mouratoglou para fazer a pré-temporada e ver se queria ficar lá, mas é o treinador da Serena e tem treinadores para as outras jogadoras e fazia-me confusão estar com alguém que não conheço. Já conhecia o Pedro há muitos anos do CTP, está há oito anos em Barcelona, já trabalhava com raparigas, a maioria juniores, mas já as acompanhava em torneios profissionais. Estive lá três dias a treinar com ele e acertámos tudo e ele deixou a Academia para vir para cá. O facto de ter sido formado como treinador fora pode ser uma mais-valia, não está tanto dentro da mentalidade portuguesa – o que, infelizmente, ainda não é tão boa como gostaríamos – e tem disponibilidade para viajar. Não me vai ensinar a jogar ténis, isso foi o Nuno e acho difícil encontrar um treinador que puxe mais por nós do que ele. Igual talvez.

Como foi a pré-época com a nova equipa técnica?
Comecei a trabalhar com o Paulo duas semanas antes do Pedro e aí sinto uma diferença muito grande. O Paulo é um excelente profissional, estou a gostar muito, é muito duro e ambos estão contentes. Tive algumas limitações, primeiro uma fascite plantar quase curada, depois o pulso, mas os treinos têm corrido bem. Houve muitas mudanças, de treinador, de sítio, de raqueta... Estou a adaptar-me bem, também tenho o meu namorado cá, o que me ajuda, a minha casa é ao pé do CAR, dá para ir a pé. As facilidades do CAR também foram um motivo que me fez vir para cá: fisioterapia, nutrição, médico, ginásio… tenho tudo disponível ali e espero ficar por cá muito tempo.

Que objectivos tem para 2014?
Gostava de entrar no top 100 (já estive a 102.ª), mas não é uma obsessão, apenas um dos objectivos. Quero é atingir o melhor ranking possível e, se correr bem, talvez terminar o ano no top 70, 80. Só vou jogar torneios WTA, mesmo que só entre no qualifying, até porque com a mudança do sistema de pontuação, só as vencedoras de torneios ITF é que não ganham menos pontos. Após a Austrália, jogo em Paris (ou Pattaya se entrar no quadro) e depois vou para América do Sul. Gostava muito de fazer o meu melhor resultado no Portugal Open, é o meu torneio preferido a par dos Grand Slams e é muito especial jogar em casa. E quero ganhar encontros neste nível de torneios e, talvez seja muito ambicioso, mas um dia quero que o torneio seja meu. Em termos de selecção, o sonho era disputar o play-off para subir de divisão. Há dois anos, só perdemos com a Inglaterra e estávamos num grupo muito duro, mas também é preciso ter sorte no sorteio.

E como está de apoios? A recente ligação com a agência Polaris (ligada ao agente Jorge Mendes) pode ajudá-la nesse aspecto?
Vai ser um ano de investimento, com muitas despesas: treinador exclusivo, a viajar comigo, mudança de casa… espero que corra bem para continuar a alimentar isto. Tenho apoio da Babolat, Lotto e sou embaixadora da Tag Heuer, mas só em material. A Polaris é mais um reforço nesta altura de investimento na minha carreira e saber que tenho uma equipa tão profissional comigo dá-me uma força extra e acredito que me vão ajudar a arranjar apoios.

Também pediu para conhecer o Ronaldo como fez o João Sousa?
Ainda não, mas o pedido vai chegar. O Ronaldo e o Mourinho!

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