Todos sabem que, na Champions, enquanto há vida há Real Madrid
Joselu entrou aos 81’, empatou o jogo aos 88’ e deu a vitória aos 90+1’. O Real parecia ter a final da Champions a escapar-lhe, mas isso, com este clube ao barulho, pode não passar de ilusão.
Aos 87’, o Bayern Munique estava a vencer em Madrid, por 1-0, tendo na mão o apuramento para a final da Liga dos Campeões. Aos 88’, o Real empatou. Aos 90+1’, o Real marcou o 2-1. E ainda sofreu até aos 115'. Como todos sabem, enquanto há vida há Real. E os que não sabem andam distraídos.
O hino da Liga dos Campeões diz-nos que Sie sind die allerbesten Mannschaften [estas são as melhores equipas] e fá-lo também em francês e inglês. E falam de clubes que são Die Besten [os melhores]. Talvez esteja na hora de se mudar qualquer coisa. Se é Champions, é para o Real. Los mejores não ficaria mal na música.
Os espanhóis vão viajar até Londres a 1 de Junho, para defrontarem o Borussia Dortmund na final de Wembley. Para Carlo Ancelotti, esta é a sexta final da Liga dos Campeões na carreira, depois de lá ter estado com o Milan, em 2003, 2005 e 2007, e com o Real Madrid, em 2014 e 2022.
Bom início
A partida em Madrid começou com níveis bastante altos de intensidade e com uma dinâmica curiosa nas duas equipas: a falta de medo. Não que o posicionamento, sobretudo o do Bayern, não fosse cauteloso, mas porque a abordagem dos jogadores aos lances era descuidada.
De um lado e outro, os jogadores não tinham pudor em entrarem “à queima”, abdicando de uma atitude mais passiva de contenção. Isso levou a algumas perdas de bola, jogadores batidos facilmente na pressão e um jogo partido.
Mas durou pouco. Por indicação dos treinadores ou pela experiência de grande parte dos jogadores em campo, ambas as equipas acabaram por optar por uma postura mais cautelosa na abordagem ao portador da bola e deixaram de lado as tentativas de desarme em zonas altas.
O Bayern teve quase sempre um posicionamento médio-baixo, com o Real em ataque posicional permanente. Sabe-se o quanto esta equipa espanhola gosta de fazer precisamente o oposto disso, preferindo lançar jogadores como Vini, Valverde, Rodrygo e Bellingham em jogadas de transição, e o Bayern terá tentado esfriar isso.
Ao contrário do que aconteceu na primeira mão, a equipa alemã teve menos bola e tentou tirar a profundidade às “motas” do Real, além de ter dois médios e dois laterais de predilecção defensiva – e ainda entrou Davies para o lugar do lesionado Gnabry, entrando um ala de capacidade defensiva.
Houve algumas oportunidades de golo, mas sem se poder dizer que alguma das equipas merecesse claramente a vantagem – Kane, Vini e Rodrygo tiveram bons lances.
O avançado inglês do Bayern acabou por tocar pouco na bola e, quando tocou, não foi feliz: os tradicionais movimentos de apoio frontal, arrastando os centrais consigo, acabaram muitas vezes em perdas de bola, até porque Musiala, Gnabry e Sané, desinspirados, deram poucas soluções.
Mais Vini
Na segunda parte, Vini deixou de pisar terrenos tão centrais e encostou-se à esquerda, para poder ter mais acções de um contra um.
O brasileiro partia da zona central, dando a entender aos adversários que iria pedir a bola entre linhas ou em profundidade, mas depois movimentava-se rapidamente para o corredor, obrigando o Bayern a trocar referências de marcação de um momento para o outro.
Também a presença de Bellingham mais subido do que na primeira parte contribuiu para que Kimmich estivesse obrigado a fechar mais por dentro, deixando, por extensão, mais tempo e espaço a Vini na ala.
As jogadas do brasileiro sucederam-se: umas com remate (defesa de Neuer), outras com faltas ganhas, outras com assistências (remate de Rodrygo ao poste).
Aos 68’, o Bayern adiantou-se. Com o Real todo no ataque, os alemães recuperaram a bola e pela primeira vez conseguiram o que tinham planeado: Kane a receber entre linhas e a servir um colega em profundidade, com a qualidade do costume. O “alvo” foi Davies, que pôde atacar Rudiger da esquerda para o meio e rematar em arco, de pé direito.
A partida entrou, depois, numa fase mais confusa, com o Bayern a defender e o Real muito atabalhoado na procura do golo. A equipa espanhola parecia algo perdida, mas isso, com o Real, pode não significar nada.
Aos 87’, Neuer arriscou lançamento à mão, houve perda de bola e, depois de um remate de Vini mal defendido pelo guarda-redes, o recém-entrado Joselu encostou para o 1-1. Aos 90+1', num lance confuso na área, Joselu voltou a marcar e, depois do suspense da anulação inicial do golo, houve mesmo fiesta rija em Madrid.
Ao contrário do que aconteceu na outra meia-final, este desfecho premeia a equipa que mais fez por vencer o jogo. O Real quis mais, atacou mais, rematou mais e um Bayern "à Dortmund" desta vez acabou sem nada.
Quanto ao drama, só os mais distraídos se surpreendem com um final deste tipo quando há Real ao barulho.