Pius garantiu que a noite do FC Porto seria calma
O jogador do Chaves foi expulso com dois amarelos em três minutos e hipotecou o que quer que fosse que a equipa ainda pudesse fazer. O FC Porto foi competente, mas nem precisaria de ter sido.
Não, Júnior Pius não marcou autogolos. Não, não foi ele quem falhou nos golos sofridos. Não, não foi ele quem montou a estratégia do Desportivo de Chaves para defrontar o FC Porto neste sábado. Mas o defesa da equipa transmontana comportou-se de forma bizarra neste desafio e foi ele quem garantiu, mesmo que não o quisesse, que a noite do FC Porto fosse calma – o triunfo por 3-0 não tem muita história.
Pius conseguiu, em três minutos, protestar uma decisão do árbitro, conseguiu que lhe fosse exibido um cartão amarelo, foi ainda capaz de deixar os envolvidos numa nuvem de desconcentração e, para compor o cenário, ainda deu ao árbitro motivos para lhe exibir um segundo cartão, depois de uma entrada negligente – e totalmente escusada, feita em zona ofensiva.
Em três minutos, o Chaves sofreu um golo, ficou a jogar com dez e abriu mão do que quer que fosse que ainda poderia tirar deste jogo.
O que se passou em Chaves foi uma extensão do momento que vive a equipa da casa. Perdeu-se emocionalmente, deixou que esse descontrolo tivesse impacto no comportamento da equipa, acabou por ainda piorar esses devaneios e mediu mal os momentos em que poderia arriscar. O plano mental influiu no plano desportivo e o Chaves abriu mão deste jogo de forma muito fácil - e desnecessária.
Nem o mais empedernido adepto do FC Porto dirá que a equipa portista teve um desempenho fantástico na primeira parte, mas a equipa foi para o intervalo com um confortável 2-0, que poderia ser três ou quatro, sem que tenha parecido necessário jogar muito mais do que aquilo que jogou.
Conceição lançou Taremi no “onze” e havia a dúvida sobre se manteria o 4x3x3 e, se o fizesse, quem ficaria com o pelouro da ala esquerda. A opção passou por manter Pepê como médio-interior e colocar o avançado iraniano como ala.
O avançado juntou-se muito a Evanilson na zona interior, algo bem diferente dos movimentos de um contra um pelo corredor habitualmente desenhados por Galeno. E isso pareceu surpreender o Chaves, já que sem um ala típico e sem João Mendes projectado não havia ninguém para marcar nessa zona.
Havia, por outro lado, povoamento excessivo da ala oposta, algo a que o Chaves não respondeu com um ajuste mais inteligente da largura da sua linha defensiva.
E foi por isso que o FC Porto criou, vezes sem conta, engodos na ala direita, quase sempre com Pepê por dentro, a atrair marcações, e Francisco Conceição por fora, a beneficiar de isolamentos para um contra um. Mas ainda antes de qualquer destes lances funcionar já o FC Porto estava a vencer, com um livre directo de Conceição aos 27’.
Nesse lance, Pius excedeu-se incompreensivelmente nos protestos - chegou a haver tête-à-tête com o árbitro José Bessa – e, além de ser advertido, provocou uma clara desatenção global na equipa, que não estava a saber organizar-se para a barreira. Coincidentemente ou não, a bola de Conceição passou pela zona da barreira.
Três minutos depois, Pius, ainda em brasa, entrou de forma negligente sobre um adversário e foi advertido pela segunda vez.
O Chaves ficou a jogar com dez e ficou sem o seu lateral-esquerdo, que até era a zona a ser mais “carregada” pelo FC Porto.
Essa lógica foi reforçada e, depois de mais um par de lances criados por essa via, o FC Porto conseguiu ter Pepê entre linhas na meia-direita, lançou Taremi em profundidade e o iraniano, bem longe da “sua” zona, aproveitou a confusão de marcações para assistir Evanilson para o 2-0. Foi uma boa jogada e um bom golo, já depois de um outro invalidado por fora-de-jogo. E tudo começou numa perda de bola totalmente escusada em zona defensiva, por parte de uma equipa que não soube medir o risco.
Para a segunda parte, como convencer uma equipa que ganha por 2-0 e joga em 11 contra dez de que deve continuar a ser ofensiva, dinâmica e pressionante? Não é fácil.
O FC Porto passou 45 minutos em processo ofensivo e, apesar de algumas oportunidades de golo, esteve mais tempo à espera que os segundos passassem do que à procura de marcar golos. Estamos em Maio, com o campeonato perdido para os “dragões” e, quanto mais não seja por esses motivos, a opção é entendível.
Houve, ainda assim, oportunidade para o 3-0 num penálti convertido por Taremi depois de mais uma combinação curta na ala direita – foram Baró e Pepê a inventar o lance.