Boa ida e má volta a Toulouse
Ir ver um jogo do Mundial de râguebi é um privilégio. Mesmo se foi uma cansativa correria este ir e vir a Toulouse. O Mundial transformou a cidade francesa - em dia de jogo as ruas de acesso ao estádio estão fechadas ou controladas e as rotas habituais de autocarros foram alteradas. Solução: ir a pé da praça Capitole até ao Stade de Toulouse, seguindo a margem do rio Garona numa cansativa e apressada caminhada.
Entrados no estádio, seguimos para a bancada dos portugueses carregada de camisolas e bandeiras vermelhas - infelizmente os “lobos” estavam de camisola branca -, e de gargantas afinadas para cantar “A Portuguesa” a plenos pulmões, num sempre muito emotivo momento.
Jogo começado e imediato ensaio georgiano. Mau!… A coisa promete o pior. E assim foi durante quase toda a primeira parte.
Mau jogo ao pé com entregas de fácil manobra para o adversário, pouco terreno nas costas e a sensação que se desenhava o desastre. Na bancada e sob o comando do Jaime Rocha gritava-se a plenos pulmões para acordar os adormecidos “lobos”. Não esperávamos uns georgianos assim, ouvi dizer mais tarde. Então que raio de georgianos esperavam? Que preparação fizeram?
Num repente, o Raffaelle Storti lançou-se numa corrida vertiginosa e marcou ensaio. As bancadas exultaram e voltámos a cantar “A Portuguesa”. A esperança renascia e chegámos ao intervalo a perder por uns 13-5 mais do que aceitáveis — porque o domínio territorial (78%) e de posse (67%) era todo georgiano. Felizmente que a capacidade de placar impediu o bom sucesso da enorme vantagem dos “lelos” na ultrapassagem da linha-de-vantagem.
Começou a segunda-parte e tudo mudou. Os “lobos” começaram a avançar no terreno e os georgianos, pressionados, voltaram, então sim, à velha escola da colisão. E lançaram-se canal 1 fora, à procura da ruptura. Tão perdidos estavam dentro do campo e no banco que não perceberam que o abertura Jerónimo Portela tinha mudado para 2.º centro e que o canal 1 era guardado pelo muro Appleton/Bettencourt. Mas mais: o banco georgiano mostrou tal receio do nosso três-de-trás que, não ousando utilizar o jogo ao pé, não chegou à nossa área de 22 metros…
Com as bancadas incansáveis a gritar o seu apoio, Storti "pinta outra vez a manta" e marca novo ensaio que coloca o resultado com cinco pontos de vantagem para os “lobos”. Uma festa e faltavam vinte minutos para terminar. Mas sentia-se o cheiro da vitória. Na equipa georgiana, de dentro do campo ou do banco, não havia leitura capaz de alterar o perfil do jogo. E o domínio era nosso. Mas não recorrendo aos pontapés de ressalto (está bom de ver que não foram chamados à colação durante a semana) não fizemos o elementar: aumentar o resultado para 8 pontos de diferença e retirar os georgianos do resultado.
Surgiu então o impensável: a sete minutos do fim o banco substitui Samuel Marques numa das piores decisões que já vi - num jogo desta natureza e com o resultado como estava, lançar um jogador da bancada para o inferno de campo é correr voluntariamente um risco sem sentido. E foi o que aconteceu: o jogador entrado fresco mas naturalmente desajustado dos pormenores do jogo, fez uma falta e entregou, numa desilusão geral, o empate aos georgianos, eliminando a vitória que estava ali, à mão de semear.
Mas ainda tivemos uma última oportunidade para vencer: uma penalidade próxima da lateral direita, numa posição difícil. E espanto, dos espantos é designado para chutar a penalidade o pé direito de Nuno Sousa Guedes. Que falhou com a bola a percorrer a trajectória curva esperada. E dentro do campo estava um canhoto que teria a trajectória curva da bola a seu favor. O que recomendava que a responsabilidade do pontapé fosse entregue ao Jerónimo Portela. Não usar, face às circunstâncias, o mais adequado chutador constitui outro mistério decisório…
E, assim, de um jogo de vitória à vista e por inépcia do banco ficámo-nos pelo empate que, pela desadequada estratégia utilizada, não pode ser considerado um bom resultado. Porque os jogadores pela sua atitude, empenho, desenvoltura e capacidade adaptativa, mereciam a vitória.
E a volta foi uma tristeza.