Em Sintra, abriu uma academia de ilusionismo, uma arte que está “ao nível das outras”
Inaugurada a 25 de Outubro, a Academia de Ilusionismo de Sintra pretende mostrar que a magia não serve apenas para encantar crianças e que há muito mais para aprender além dos truques. Será ainda um espaço de partilha e “liberdade artística”.
Se as primeiras imagens que vêm à cabeça quando se pensa em ilusionismo são coelhos e cartolas, moedas a desaparecer atrás das orelhas e crianças com os olhos a cintilar como que seduzidas pelo encanto do mistério, Francisco Mousinho diz que tudo isto representa apenas uma pequena fatia da realidade. Quase ilusórias daquilo que é verdadeiramente a magia: uma arte que, segundo o ilusionista, contempla todas as bases essenciais de um performer, estando em pé de igualdade com as restantes artes cénicas. A Academia de Ilusionismo de Sintra, que foi inaugurada esta terça-feira, 25 de Outubro, surge, assim, para mostrar que a magia não é só para miúdos, que há muito mais para aprender para além dos truques e, sobretudo, para colmatar a falta de oferta na área em Portugal.
Aos 26 anos e com mais de mil espectáculos na manga, Francisco Mousinho quer ensinar não só os segredos que estão por trás dos truques — melhor, “superpoderes”, nota, já que “98% das pessoas no mundo inteiro” não lhes têm acesso —, como também “formar bons ilusionistas mesmo que não façam disto a sua vida”. E tal implica, explica o fundador, ensinar esta arte de “uma forma que seja honorável”, trabalhando as várias competências necessárias: “Eles [os participantes] vão começar a aprender desde as bases, à introdução ao palco, às artes cénicas, passando pela comédia, escrita criativa e guionismo.” Só assim, diz, se fará jus à magia, tornando-a em algo “verdadeiramente mágico”.
A Academia de Ilusionismo de Sintra, que é pioneira pelo menos no centro do país (antes a Nova Academia de Lisboa dava aulas de magia, mas não houve adesão suficiente, ao que o P3 averiguou), localiza-se na Serra das Minas, perto do centro comercial Alegro Sintra — uma localização “excelente” com pastelarias e comércio local à volta, assim como uma escola básica mesmo em frente, nota Francisco.
Apesar de a academia já estar aberta, os próximos meses servirão para divulgar o projecto e fazer apresentações nas escolas, estando o início do ano lectivo previsto para Janeiro de 2023, com cursos para iniciantes, intermédios e avançados. A idade mínima é 12 anos, uma vez que, para o fundador, é a partir desta idade que se desenvolve a atenção e capacidade psicomotoras necessárias. Os mais pequenos (sete anos é a idade mínima) poderão ingressar numa outra formação, o Curso Mágico Júnior.
“O foco [da academia] é apanhar miúdos no crescimento”, sublinha Francisco, observando que a magia é uma ferramenta útil para desenvolver o autoconhecimento, a confiança e as competências de comunicação. No entanto, não há restrições de idade: pode ir “até aos 120”, desde que se consiga “fazer coisas com as mãos”.
Nos primeiros tempos, visando avaliar a evolução do projecto, Francisco será o único formador nos cursos de longa duração. Mas convidará outros ilusionistas para dar workshops temáticos, sobre mentalismo, por exemplo, ou em torno do cubo mágico (onde se ficará a saber como resolvê-lo num abrir e fechar de olhos), e cujas inscrições estarão abertas a todos os interessados.
O espaço inclui ainda uma biblioteca, que poderá ser visitada fora dos horários das aulas, e uma loja com os produtos necessários para praticar, como baralhos de cartas ou lenços.
Um espaço de partilha e “liberdade artística"
Tudo partiu de um truque, que aprendeu em criança, em que fazia desaparecer uma moeda para dentro da manga. A partir daí, Francisco começou a receber gorjetas pelas suas actuações numa pizzaria em Sintra, onde vive, seguindo-se os espectáculos infantis, casamentos, baptizados e, mais tarde, passou a fazer eventos empresariais. Pelo meio, foi finalista do programa Got Talent Portugal, em 2016, enquanto estudava Artes Performativas na Escola Superior de Tecnologias e Artes de Lisboa, e foi distinguido, dois anos depois, como “Ilusionista do Ano” pela Associação Portuguesa de Ilusionismo.
Anos e anos a acumular experiências que o ajudaram a perceber o que o motiva realmente. “Acima de tudo, o que aprendi neste tempo como performer foi que gosto muito de conhecer pessoas, da conexão e do partilhar, de lhes dar algo que possa ser diferente”, reconhece Francisco.
É por isso que a ideia da academia vai muito além da vertente pedagógica: o espaço está a aberto a propostas de workshops, conferências ou ensaios, havendo “liberdade artística” para criar e recriar. Para mais, também pretende ser um ponto de encontro, atrair os ilusionistas que andam pelo país para as chamadas jam sessions e outros momentos de convívio. Ilusionistas existem, apesar da pouca dinamização no país, garante, só que ainda é “um meio fechado”.
Formar bons artistas que, por conseguinte, poderão vir a mudar a mentalidade do público face a esta arte misteriosa: é este o objectivo de Francisco Mousinho, para quem os segredos, mais do que uma arca de Noé, são uma oportunidade de cumplicidade.