Arquitectura
Esta escola de Aveiro é um “abrigo sem ser limitadora”
Foi feito com uma “linguagem sóbria e poucas variações” o novo edifício da Escola Básica de São Bernardo, em Aveiro, destinada aos alunos mais jovens do ensino básico. Ao lado do pavilhão pré-fabricado onde costumavam ter aulas – agora convertido em recreio coberto –, hoje ergue-se um novo edifício, com dois pisos e 4375 metros quadrados. O arquitecto responsável, João Cassiano Santos, do atelier Arte Tectónica, explica ao P3 que, neste caso, o desenho simples foi pensado para “servir a comunidade”.
São “dois blocos que se agregam” através de um “risco ao meio”, um largo corredor de distribuição central que divide o lado Norte do lado Sul do edifício. A Norte conta com oito salas de aula sobrepostas, quatro em cada piso, que dispõem da “formação clássica do quadro e projector na parede do fundo, atrás do professor, e luz em janelas rasgadas horizontais maiores”, revela o arquitecto. Nesta zona, a planta conta ainda com um “recorte”, de forma a encontrar o “Norte perfeito”, para que a luz solar não perturbe a aprendizagem e as projecções. No lado oposto, o “grande” átrio de entrada, com uma escadaria, um pequeno ginásio, a sala dos professores, “mais recatada e isolada do barulho”, e as casas de banho.
Completamente pintado a branco do lado de fora e com um telhado que “esconde os painéis solares e os equipamentos de ventilação”, ao mesmo tempo que deixa escorrer a chuva de Aveiro, o edifício assemelha-se ao formato de casa tradicional, não fossem os “passadiços cobertos” por policarbonato a anunciar que ali passam estudantes. João Cassiano Santos explica que estas “pérgulas com material de estufas azul” servem precisamente para proteger as crianças da chuva, impedindo que apanhem “molhas” nos dias mais cinzentos da cidade, como se pode ver nas fotografias de Ivo Tavares. “E porquê azul?”, pergunta o arquitecto. “Porque o céu é azul e se vamos por baixo, pelo menos que tenha uma cor próxima da do céu”, afirma.
Do lado de dentro, a cor vai aparecendo nos corredores, desde o chão em mosaico de cerâmica verde-água, que sobe pelas paredes, até aos cacifos que, sendo adequados às idades dos alunos, mais baixos e com cor identificativa ao fundo, não deixam de remontar “àquela cena clássica de filme americano de juventude”. As portas são de um tom laranja forte para as casas de banho e azul índigo para as salas de aula, num uso da cor “intenso e pontual”. O espaço é assim, maioritariamente, um “envelope branco” e amplo, onde “os miúdos trazem a própria cor, o barulho e a dinâmica”, refere o arquitecto.
É um local que se quer “abrigo sem ser limitador”. “Temos a obrigação de projectar o género de edifício, de ambiente, que queremos transmitir aos miúdos para crescerem (...) Desenhar uma escola é sempre uma esperança no futuro.”
Texto editado por Ana Maria Henriques