Fotografia
De pragas de gafanhotos a uma nova visão sobre a Lua: estas imagens venceram os Sony Awards 2021
Para os Sony World Photography Awards, Craig Easton é o Fotógrafo do Ano com o projecto Bank Top, que retrata membros do bairro "mais segregado do Reino Unido".
Já são conhecidos os vencedores da vertente profissional da 14.ª edição dos Sony World Photography Awards. O prémio maior da cerimónia, Fotógrafo do Ano, foi atribuído ao documentarista Craig Easton que, com a série Bank Top, retratou os membros do bairro “mais segregado do Reino Unido”. A falar sobre o projecto, Mike Trow, presidente da edição de 2021 do concurso, justificou a vitória com “a intenção, dedicação e compreensão que Craig traz para o projecto”. “É o peso moral, por detrás deste trabalho, que o torna tão importante e merecedor”, acrescentou. A série distinguiu-se na categoria de Retrato.
O checo Tomáš Vocelka foi galardoado na categoria de Arquitectura e Design com o trabalho Eternal Hunting Grounds, que capturou o ambiente minimalista de um crematório de animais na República Checa, desenhado pelo arquitecto Petr Hajek. Segundo a sinopse do projecto, o espaço foi criado num antigo complexo militar, abandonado há 17 anos, após dois irmãos perderem o seu animal de estimação e não encontrarem um local para o cremar ou enterrar.
Mark Hamilton Gruchy revisitou uma viagem à Lua para “expressar não só problemas contemporâneos, mas também alguns que eram relevantes quando as missões Apolo foram feitas” e a audácia valeu-lhe o primeiro prémio na categoria de Criatividade. The Moon Revisited, como intitulou o projecto, é constituído por “imagens não processadas” pela NASA e pelo Jet Propulsion Laboratory, que encontraram uma nova vida para “criar uma conversa sobre a imutabilidade da Lua em contraste com a Terra, que continua a ser um lugar dinâmico, onde a mudança não pode ser evitada”, lê-se na sinopse do projecto.
Na categoria documental destacou-se a obra de Vito Fusco, The Killing Daisy, que tem como estrela a mortal píretro – uma delicada margarida imbuída com um poder assassino. A série documenta o cultivo desta planta nas colinas de argila de Nakuru, no Quénia, a mais de 1500 metros de altitude. Durante várias décadas do século XX, a píretro tornou-se um dos mais populares pesticidas naturais do mundo, mas nos anos 80 foi substituída por uma composto químico mais barato. “O Governo queniano decidiu liberalizar a produção de píretro, abrindo-a para empresas privadas, numa tentativa ambiciosa de reviver o sector e ajudar os agricultores locais a responder à crescente procura global por produtos biológicos”, afirma o fotógrafo.
A transição energética ambiciosa e inédita da Islândia, de combustíveis fósseis para fontes renováveis, foi a figura central do projecto de Simone Tramonte, o Net-zero Transition, que lhe valeu o primeiro prémio na categoria de Ambiente. De acordo com a fotógrafa, esta transição “permitiu criar um ecossistema de inovação e empreendimento, o que levou ao crescimento de negócios lucrativos com o objectivo de cause o mínimo impacto ambiental”.
Já o fotógrafo Majid Hojjati, vencedor da categoria Paisagem, virou a sua lente para os Silent Neighborhoods, aqueles espaços uma vez tocados pela humanidade, mas onde, agora, nem o “barulho do silêncio” fazem ouvir. Casas abandonadas, cadeiras vazias e roupas por estrear, com alguns botões perdidos, preenchem as paisagens, maioritariamente áridas, que o iraniano fotografou, de forma a mostrar que os seres humanos “nunca mudam as suas maneiras”.
Na categoria Portefólio, Laura Pannack, vencedora do primeiro prémio, reuniu os melhores retratos para espelhar a “vulnerabilidade e honestidade” que marcam o seu processo. “Eu acredito que as imagens devem captar e evocar emoção e, por isso, com cada fotografia que tiro considero os elementos dentro e fora das mesmas. O simbolismo é uma importante referência para as minhas escolhas de composição e conteúdo”, explica.
Para mostrar o outro lado da Síria, Anas Alkharboutli viajou até à vila de Aljiina, perto da cidade de Alepo, para fotografar o projecto Sport and Fun Instead of War and Fear, que retrata uma escola de karaté para crianças. Segundo a sinopse, o que a torna especial é o facto de “rapazes e raparigas, com ou sem deficiências, serem ensinados juntos”, sem qualquer tipo de discriminação à mistura. “Com esta escola, pretende-se criar um sentido de comunidade e superar qualquer trauma de guerra nas mentes destas crianças”, confidencia a fotógrafa.
Com recurso ao processo de colódio húmido, Peter Eleveld conquistou o primeiro prémio na categoria Still Life. O projecto Still Life Composition, Shot on Wet Plate pegou em objectos ordinários, como frutas, flores e vidraria, e deu-lhes um ar clássico, perdido no tempo, através de um processo que o fotógrafo apelida como “mágico”.
Por último, na categoria de Vida Selvagem e Natureza, destacou-se a invasão de gafanhotos na África Oriental, captada pela câmara de Luis Tato. Segundo o fotógrafo, estes insectos “devoram tudo no seu caminho e tornaram-se uma grande ameaça para as reservas de comida e meios de subsistência de milhões de pessoas”, uma crise que atingiu proporções históricas este ano.
Texto editado por Ana Maria Henriques