Condenado pelo assassínio de Pasolini renega culpa

Giuseppe Pelosi
declara que a morte do realizador italiano foi obra de três homens "com pronúncia do Sul"

Giuseppe Pelosi, conhecido como Pino, foi condenado a nove anos e dois meses pela morte do cineasta Pier Paolo Pasolini, na madrugada de 2 de Novembro de 1975. Mas agora, numa entrevista transmitida sábado no terceiro canal da RAI, a estação de televisão pública de Itália, Pelosi retractou-se e disse que não foi o autor do crime.Segundo afirmou Pelosi, agora com 47 anos, estava com o realizador numa cabana perto da praia de Ostia, antigo porto de Roma, quando chegaram três homens desconhecidos, que "falavam com pronúncia do Sul" e que terão espancado brutalmente Pasolini, enquanto o insultavam de "pedaço de merda" e "comunista imundo".
Deixando Pasolini agonizante, puseram-se em fuga de automóvel, enquanto Pino, então com 17 anos, aterrorizado, subiu para o Alfa Romeo 2000 do cineasta e, sem querer, atropelou-o, o que lhe provocou a morte. Mais tarde, e quando circulava por uma estrada a alta velocidade e em contramão, foi detido pela polícia. O jovem franzino não tinha nenhuma marca de violência no corpo, e o Pasolini que teria assassinado era um homem forte e que praticava desporto.
A morte de Pier Paolo Pasolini esteve sempre envolta em discrepâncias, apesar da condenação de Pelosi. Logo a 14 de Novembro de 1975, a jornalista Oriana Fallaci escrevia que havia outras testemunhas - dois casais que se encontravam também na praia, um num carro e outro numa cabana -, que declararam que tinha havido outros intervenientes na morte de Pasolini: dois homens numa moto que, segundo Fallaci, eram conhecidos no mundo da droga. Mas os dois casais não quiseram ou não puderam dar a cara.
A verdade é que Pelosi foi condenado em tribunal de primeira instância por ter assassinado Pasolini "com outros desconhecidos", mas o tribunal de segunda instância apenas acusou Pino, que disse que o realizador o tinha levado para Ostia, que tinham mantido relações sexuais incompletas e que quando Pier Paolo exigiu mais, reagiu violentamente. Por que teria Pelosi aceite as culpas? Para ser julgado num tribunal de menores, pois num juízo de adultos poderia ser condenado a uma pena de até 30 anos de prisão.
A hipótese de um assassínio político não era descabida na Itália dos anos 70. Era odiado pela direita, pois era comunista, homossexual e iconoclasta face aos símbolos da Igreja católica. E detestado pela esquerda, pois era cristão, libertário e comunista heterodoxo, não hesitando em denunciar como reaccionário o terrorismo urbano que então grassava no seu país.

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