Britney Spears

Um ano depois de ter sido humilhada, a cantora foi a estrela da noite na 25.ª edição dos Prémios MTV, no domingo, em Los Angeles. A indústria do entretenimento parece ter feito as pazes com Britney Spears que, nos últimos tempos, era apenas falada por causa da sua atribulada vida privada

a O ano passado, na cerimónia de entrega dos Prémios MTV, todos os olhares estavam concentrados nela. Três anos depois da última apresentação em palco, e muitos escândalos depois, continuaria a América enamorada pela sua outrora estrela juvenil preferida? A interpretação da canção Gimme More foi simplesmente desastrosa e a América, e o resto do mundo, parecia definitivamente de costas voltada para Britney Spears. Mas no domingo, na 25.ª edição dos prémios, que se realizaram nos Paramount Studios de Hollywood, em Los Angeles, a indústria da música e do entretenimento voltou atrás e parece ter feito as pazes com ela. Depois da humilhação do ano passado, a redenção.
Ao longo da carreira foi nomeada 16 vezes para várias categorias dos Prémios MTV. Nunca havia ganho nada. Anteontem arrecadou três troféus - melhor vídeo do ano interpretado por uma mulher, melhor vídeo pop e melhor vídeo do ano, todos pela canção Piece of Me. O actor cómico inglês Russell Brand, que apresentou a cerimónia com tiradas de apoio a Barack Obama, disse que a noite havia sido de ressurreição - "se existisse um Cristo mulher, seria ela".
Exagero? Talvez. A estação MTV, na era da Internet e do YouTube, não tem a mesma pujança, nem os prémios possuem uma credibilidade artística evidente, mas não deixa de constituir um sinal de que a indústria da música e do entretenimento, em tempo de crise, não quer abandonar uma das suas figuras de topo.
A celebridade, de 26 anos, agradeceu a oportunidade de relançamento da carreira. "Agradeço a Deus, à minha maravilhosa família, aos meus dois filhos e aos meus fãs, por me inspirarem todos os dias", afirmou, prestando também homenagem ao responsável pela Sony-BMG, Barry Wise, e ao manager, Larry Rudolf, por terem sempre acreditado nela, "mesmo nos piores momentos."
Nos últimos anos a cantora viu-se envolvida numa série de acontecimentos mediáticos. Depois da desastrosa actuação nos Prémios MTV, travou uma batalha judicial com o ex-marido, Kevin Federline, sendo-lhe retirada a custódia dos dois filhos, em grande parte pelo facto de, em Janeiro, ter sido internada por duas vezes numa clínica de reabilitação e tratamento psiquiátrico.
Britney Spears vendeu mais de 80 milhões de álbuns ao longo da carreira. Desde 2004, quando se casou com o bailarino Kevin Federline - de quem teve dois filhos e se divorciou o ano passado -, passou a ser notícia pela conduta na vida privada, captada quase sempre à beira do descontrole pelas objectivas implacáveis dos fotógrafos, e não tanto pela sua actividade musical.
Carreira precoce
Revelada precocemente aos 11 anos, no contexto do programa de televisão Clube do Rato Mickey (onde despontaram também os cantores Justin Timberlake e Christina Aguilera), Britney Spears constituiu uma criação do produtor Jeff Fenster.
Numa entrevista, há dois anos, o produtor dizia que havia vislumbrado nela uma mistura de Madonna, provocante, e Debbie Gibson, ingénua. "De dia dizia na TV 'não acredito no sexo antes do casamento'", afirmou ele. "À noite surgia na MTV de uniforme escolar e top insinuante alimentando as fantasias de público mais velho, ao mesmo tempo que dizia 'não gosto de muita roupa. Faz-me suar'."
A cantora, como tantas outras estrelas pop mais ou menos plastificadas, viveu momentos difíceis quando teve que abandonar a imagem de estrela juvenil para apelar a um público mais maduro. Como aconteceu com o seu outrora namorado, Justin Timberlake, a partir de determinado momento quis deixar de ser o poster do quarto dos adolescentes. Timberlake, apesar da cara de rapaz, já é visto como homem, servindo até para relançar a carreira de Madonna. Mas a verdade é que Britney, apesar do seu último álbum, Blackout, ser provavelmente o seu registo mais conseguido, ainda não alcançou a mesma credibilidade artística.
Prémios convenientes
O ano passado, depois de ter cortado totalmente o cabelo, dizia que queria ser levada a sério, que estava farta de ser "a menina bonita das meninas bonitas". Talvez por isso, os seus últimos discos estão carregados de sexo. Mas a verdade é que nunca conseguiu operar uma reviravolta, com o mesmo efeito que Nelly Furtado, por exemplo. Perseguida pela imprensa sensacionalista desde sempre, o seu comportamento é analisado com minúcia.
Neste quadro, os prémios de domingo não parecem ser inocentes. Ela necessitava deles para voltar a acreditar na sua carreira. Mas a indústria tradicional da música, às voltas com uma crise sem fim à vista, também necessita de estrelas pop como ela.
Em 1990, Michael Jackson serviu-se da cerimónia dos Prémios MTV para relançar a carreira. Agora parece ter sido Britney, apesar do efeito da cerimónia se ter esbatido, pelo que só o futuro dirá se, daqui para a frente, iremos vê-la a ser falada pela actividade musical.
Na gala de domingo, à qual assistiram personalidades como o campeão olímpico Michael Phelps ou Paris Hilton, a cantora surgiu pela primeira vez para um pequeno quadro cómico com o actor Jonah Hill, mas seria mais tarde, quando recebeu o terceiro galardão, "vídeo do ano", que se afirmaria surpresa, "em choque".
Mas nem só de Britney Spears viveu a cerimónia. Os alemães Tokio Hotel, cujos fãs votaram maciçamente através de mensagens de telemóvel, venceram na categoria de melhor artista novo. A actriz Demi Moore entregou o troféu de melhor vídeo do ano interpretado por um homem ao cantor soul Chris Brown, pelo vídeo da canção With You, enquanto a melhor dança em vídeo foi para o grupo feminino Pussycat Dolls. Em melhor vídeo rock venceram os Linkin Park com Shadow of the Day e em melhor vídeo hip-hop, o americano Lil' Wayne.
Ao longo da cerimónia actuou uma série de figuras da música pop como Christina Aguilera, Rihanna, Lil' Wayne, Jonas Brothers ou o rapper T.I., apesar de recentemente um tribunal ter feito saber que vai estar preso um ano e fazer mil horas de serviço comunitário, depois de ter sido declarado culpado de posse ilegal de armas. A fechar o acontecimento esteve o rapper Kanye West, que, o ano passado, havia jurado que não voltaria a cantar nos Prémios MTV por não ter recebido ainda nenhum prémio. Mas como se viu na noite de domingo com Britney Spears, um ano pode-se estar no Inferno e, no ano seguinte, aceder-se ao Céu.

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