Tribunal da Relação de Lisboa liberta espanhol com mandado de detenção e pedido de extradição

Um juiz desembargador do Tribunal da Relação de Lisboa ignorou um mandado de captura e um pedido de extradição emanados pelas autoridades de Espanha e colocou em liberdade, na tarde de sexta-feira, um cadastrado daquele país, detido desde o passado dia 6, depois de baleado por desconhecidos na Avenida da Igreja.José Garcia Renduelles Menendez saiu do Tribunal da Relação com um termo de identidade e residência, ante a estupefacção dos polícias que o haviam detido (uma brigada da Polícia Judiciária de Lisboa) e do delegado do Ministério Público a quem foi distribuído o processo. É que na sua folha de cadastro, para além de existirem várias anotações por tráfico de cocaína (tanto em Espanha como em Portugal), constam ainda processos vários de burla e falsificação.Mais grave, para os investigadores, é o facto de o juiz que apreciou o seu caso ter esquecido por completo o pedido das autoridades espanholas, que, ao saberem da sua detenção em Lisboa, depressa fizeram chegar um mandado de detenção internacional acompanhado de um pedido de extradição."A Justiça portuguesa e o próprio país é que ficam cada vez mais desacreditadas. Que vamos agora dizer aos espanhóis? Bem bastava já o que se passou recentemente com o Pires Coelho [traficante português preso em Espanha, pela polícia local, mas a quem as autoridades portuguesas acabaram por não aplicar as sanções inerentes ao pedido de captura internacional que haviam difundido], quanto mais esta situação de termos um magistrado que, pura e simplesmente, ignora um mandado de captura e um pedido de extradição", lamentou-se ao PÚBLICO fonte conhecedora do processo.A mais recente história de Menendez em Portugal pode começar a ser contada a partir do dia 6 deste mês, altura em que o espanhol aparece baleado numa perna em frente ao restaurante Tico-Tico, na Avenida da Igreja. Os seus agressores terão sido cinco homens que a PSP, a quem inicialmente foi entregue o caso, nunca conseguiu referenciar.Menendez - por esquecimento ou conveniência - não deu às autoridades portuguesas o apelido pelo qual é criminalmente conhecido e, assim, durante algum tempo, para os registos da policia nacional, era apenas um tal de José Renduelles, empresário que vinha a Portugal para se encontrar com um amigo e que acabou ferido a tiro numa perna.As coisas complicaram-se, porém, quando a investigação do caso (por implicar um sequestro e uma tentativa de homicídio) passou para a Polícia Judiciária. Depois de ter alta do Hospital de Santa Maria, onde foi operado, Menendez explicou que se encontrava alojado no Village Hotel, em Cascais, e que no dia em que foi baleado começou por ser sequestrado por cinco ciganos, que o haveriam de conduzir até ao estacionamento do Hotel Holliday In, onde havia deixado a sua viatura. Contou também que combinara um almoço com um amigo no Tico-Tico, mas não conseguiu dizer quem era esse homem, do mesmo modo que tal indivíduo nunca terá sido visto no local.A sucessão de contradições e histórias duvidosas levou os inspectores da Judiciária a irem mais fundo e, quando de Espanha lhes chegou a informação de quem era verdadeiramente o homem que tinham à sua guarda, perceberam que podiam estar em presença de mais uma grande negociata de droga, desta feita mal concluída.Em Espanha, por sua vez, as autoridades rejubilaram com o feito da polícia portuguesa, pois Menendez é considerado "peça fundamental" para a eficaz conclusão de várias investigações de narcotráfico, além de ter pena a cumprir.Os investigadores em Portugal estão consternados. "Agora está com termo de identidade e residência. Mas qual residência? O hotel em Cascais? Mas alguém acredita que se vai apresentar a qualquer esquadra? Não estamos a falar de um condutor apanhado sem documentos ou de um pilha-galinhas a quem o juiz diz que dali em diante tem que ir todos os dias mostrar-se à esquadra mais próxima. Estamos a falar de um dos maiores traficantes de droga. De alguém muito perigoso. E que vamos dizer aos espanhóis?..."

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