Norte contra as touradas

Este domingo, a tourada volta ao Norte, desta feita a Viana do Castelo. E tal como aconteceu na Póvoa de Varzim, vai haver contestação, sob a batuta da recém-criada Frente de Luta Anti-Touradas, que agrupa uma dezena de movimentos contestários, todos eles localizados acima do Mondego. Chrissie Hynde, vocalista dos Pretenders, pode juntar-se ao protesto.

Ganharam visibilidade nos últimos tempos, sobretudo com as manifestações na Póvoa de Varzim. Para se fortalecerem no combate contra um espectáculo que consideram bárbaro e cruel, resolveram constituir a Frente de Luta Anti-Touradas (FLAT). São essencialmente jovens do Norte, pertencem a diferentes associações de protecção dos direitos dos animais e vão fazer tudo para que, às portas do ano 2000, não se extenda a esta zona do país uma tradição que até agora era quase exclusiva do Centro e Sul de Portugal.A ideia da criação da FLAT partiu de várias organizações preocupadas com a defesa dos animais, que desejam combater mais eficazmente a tentativa de reinstauração das touradas no Norte. Todas as explicações para a existência de uma maior actividade contra as touradas nesta zona do país vão para o facto de, a Sul, haver uma maior tradição tauromáquica e, portanto, ser bastante mais difícil mudar as mentalidades. António Abel, presidente do Movimento de Luta Anti-Touradas (MATP), um dos dez membros da FLAT, refere que todas as associações de defesa dos direitos dos animais são contra as touradas. Mas, sublinha, entre as pessoas do Norte "há uma maior intransigência sempre que há tentativas de introdução ou reintrodução deste espectáculo". A opinião é partilhada pelo presidente da Associação Nortenha de Defesa dos Animais (ANIMAL), Artur Mendes, que refere que "por nunca ter havido, por aqui, uma grande tradição de touradas, a população fica mais chocada e reage com mais energia". Na sua perspectiva, "a Sul a tradição é bastante maior e, por isso, é mais difícil de combater". Já para Rui Silva, da associação Oriente no Porto, os movimentos são mais visíveis a Norte porque ali "as pessoas decidiram trabalhar em conjunto e, deste modo, conseguem uma maior força e resultados mais significativos". Todas as associações consideram que esta tentativa de reintrodução das touradas é, no fundo, uma iniciativa "frustrada". Para além da diminuição do número de aficcionados em todo o mundo, uma outra prova de que é assim - refere Artur Mendes- foram as touradas dos últimos fins-de-semana na Póvoa de Varzim, onde a praça esteve "às moscas".Para os membros da FLAT, a tourada é um fenómeno ultrapassado, tal como a "escravatura ou a morte por enforcamento". Rui Silva explica que a História está cheia de exemplos de tradições que a seu devido tempo perderam a razão de ser e foram abandonadas. Neste contexto, sendo a tourada "uma prática que nada tem de edificante ou nobre para o ser humano", o que procuram é "o aperfeiçoamento e evolução da consciência humana". "Move-nos sobretudo a enorme vontade de defender os animais", refere António Abel. Todos os grupos da FLAT são maioritariamente constituídos por jovens. As explicações para o facto não podem passar de suposições, mas apontam para o facto de se tratar do grupo etário mais sensível à causa em questão, sendo que, como refere Jonatan Saldanha, da Comunidade Verde, as pessoas mais velhas "estão mais acomodadas". Artur Mendes considera que esta questão se prende com a própria evolução da sociedade: "Há vários aspectos que vão avançando e os jovens parecem mais atentos a isto". Embora colaborem sempre que possível com todas as organizações de defesa animal, a prioridade do MATP é acabar com as touradas. Começaram por ser apenas uma página de troca de opiniões na Internet, mas aos poucos foram recebendo pedidos para alargarem o âmbito de acção. Actualmente, as formas de intervenção do MATP passam não só pela Rede, mas também por acções de consciencialização junto das camadas mais jovens, por movimentações de rua ou pelo envio de cartas a todas as entidades ou empresas que apoiem ou patrocinem as touradas. Já para a ANIMAL, a tourada é apenas mais uma das suas preocupações. O principal objectivo desta associação é a "informação e formação da população portuguesa", de modo a combater "o défice da formação quanto à causa animal". Contam neste momento com perto de três mil sócios, sem contar com activistas e simpatizantes. Quanto aos membros da recém criada Comunidade Verde, assumem-se como ecológicos e culturais. A FLAT tem preparada para o próximo domingo mais uma manifestação, desta vez em Viana do Castelo e, para além da possível participação de Chrissie Hynde, vocalista dos Pretenders, é provável que venham a ter o apoio dos jovens que vão estar em Vilar de Mouros para o festival local, onde será colocada uma banca de sensibilização anti-touradas. Os membros da FLAT prometem não desarmar, lutando com todos os meios que tiverem ao alcance para pôr fim a esta prática, adoptando, nos próximos tempos, um novo "slogan": "A nossa paciência esgotou-se".

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