Homeopatia vinga na Alemanha

O Estado alemão comparticipa nos gastos em consultas e medicamentos homeopáticos, ou não tivesse sido um médico natural da Alemanha o fundador desta terapêutica. De resto, os cidadãos deste país são grandes consumidores da medicina não-convencional.

Existem actualmente na Alemanha 124.621 médicos. De entre eles, três em cada quatro prescrevem, segundo uma pesquisa da associação alemã dos médicos homeopatas, fármacos homeopáticos.A homeopatia, terapêutica fundada em 1796 pelo médico alemão Samuel Hahnemann, representa para a Alemanha o mesmo que a acupunctura para a China ou o Ayrveda para a Índia; a par da acupunctura e da fitoterapia, é uma das mais populares formas de medicina não-convencional praticadas no país. De acordo com um inquérito do semanário Focus (Agosto de 1998), 75 por cento dos inquiridos tinham confiança nos resultados da acupunctura e 71 por cento nos efeitos dos medicamentos homeopáticos.Contudo, apesar da boa aceitação social e da moldura legal proteger a prática de algumas formas de medicina não-convencional (em especial a fitoterapia, acupunctura, homeopatia e medicina antroposófica), este sector não está livre de polémicas. Além da "tradicional" disputa entre médicos que praticam a medicina escolar ou convencional e os médicos que optam pela não-convencional, a segunda grande frente de "batalha" é entre os clínicos que praticam as terapêuticas alternativas e os técnicos "naturologistas" - "Heilpratiker" -, não licenciados em medicina.Para se poder exercer medicina não-convencional na Alemanha, a lei determina duas vias possíveis: um diploma em Medicina e uma especialização (no caso, por exemplo, da homeopatia, esta dura três anos e é reconhecida pela BK - Ordem dos Médicos alemã; existem, no entanto, outras terapêuticas para as quais a formação não tem contornos claramente definidos ); ou o curso de "naturologia" (com um exame final de conhecimentos básicos de Medicina perante as autoridades de saúde regionais do estado federado onde se pretende estabelecer). Os clínicos que exercem medicina alternativa gostariam de ver o sector reduzido apenas a médicos, uma vez "que põem em causa a capacidade e os conhecimentos dos 'Heilpratiker'", afirmou ao PÚBLICO um porta-voz da Associação Alemã dos Médicos Homeopatas (DZVH). Porém, não se prevêm nos próximos tempos alterações ao diploma legal.Quanto ao "lobby" da medicina escolar, advoga que muitas das terapêuticas ditas alternativas carecem de fundamento científico. A BK distingue, no entanto, entre não-convencionais "sérias", paramedicinas e charlatanismoProcurando ultrapassar as disputas retóricas entre medicina convencional e medicina "suave", entre "químicos" e "naturais", o Instituto de Medicina Social e Epidemiologia da Clínica Universitária de Berlim Charité (o maior hospital europeu) está a desenvolver um projecto, que envolve médicos homeopatas, antroposóficos e médicos clássicos, que visa reunir dados sobre a relação eficácia/custo destas três áreas da medicina.Do ponto de vista dos custos a aplicação de terapêuticas alternativas como, por exemplo, a acupunctura, a homeopatia e a fitoterapia têm vantagens para o sistema de saúde. Por exemplo, no tratamento de cefaleias, enxaquecas ou lombalgias, a acupunctura regista um nível de êxito significativo (superior mesmo ao da medicina convencional) e é mais "barata": os custos do tratamento são cerca de um terço inferiores aos de um tratamento convencional. O mesmo se passa com a homeopatia no tocante a cefaleias, eczemas e sinusites - o paciente necessita de menos consultas e os medicamentos empregues são mais baratos.Desde 1997 que as consultas (não todas) e a farmacopeia usada em terapias não-convencionais são comparticipadas (os medicamentos utilizados quer em tratamentos homeopáticos, quer de fitoterapia, são registados e controlados pelo Bundesinstitut für Arztneimittel, equivalente ao Infarmed português). A introdução desta cláusula - a comparticipação das alternativas - causou algumas "alergias" ao "lobby" da medicina tradicional, que teceu cenários de "horror", argumentando que este era o primeiro passo para que, em breve, métodos esotéricos como a meditação transcendental ou aplicação de pedras preciosas fossem comparticipados.

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