Uma estreia promissora

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A crise económica e financeira nacional está a passar uma factura elevada ao sector vitivinícola. O consumo interno está em queda, pelo menos em relação aos vinhos mais caros, e aqueles produtores que ainda vão vendendo têm muitas dificuldades em receber. Entrou-se numa fase de quase anarquismo, em que ninguém paga a ninguém. As consequências só não são mais dramáticas porque o sector está cada vez mais virado para a exportação e esta tem vindo a aumentar.

Mas apesar de o momento ser o menos indicado para se entrar no negócio, continuam a surgir novos produtores e novas marcas de vinho um pouco por todo o país. O dinamismo do sector vitícola é uma das poucas coisas boas que se salvam neste tempo de depressão nacional e merecia um brinde. Por exemplo, com este novo vinho Clip do Monte da Vaia, um Loureiro proveniente da sub-região do Cávado, colheita de 2010.

É uma estreia nacional. Em 2010, Pedro Barbosa juntou-se ao enólogo João Cabral de Almeida e os dois lançaram-se na aventura de fazer um Loureiro extreme que honrasse os pergaminhos da casta. João Cabral de Almeida, que colabora com Anselmo Mendes, partia com três grandes referências: Quinta do Ameal, Muros Antigos e Royal Palmeira, provavelmente os três melhores brancos de Loureiro da região, todos ligados a Anselmo Mendes (o segundo como produtor, os outros dois como consultor). Quem trabalha na Quinta do Vale Meão tem legitimidade para sonhar sempre com o melhor. Mas João Cabral de Almeida fez Pedro Barbosa descer à terra e, depois do vinho feito, sentenciou que o Clip, sendo um bom Loureiro, ainda não chega ao patamar dos outros três. A humildade fica sempre bem a um enólogo.

É também essa a nossa sentença. Mas Pedro Barbosa não tem motivos para ficar deprimido. Sem o dinheiro e os meios de vinificação do empresário Carlos Dias (Royal Palmeira), sem a experiência e o "terroir" da Quinta do Ameal (situa-se no vale do Lima, o solar da casta) e sem o saber de Anselmo Mendes, conseguiu fazer um vinho bem interessante e que enriquece o panorama vitícola minhoto. Continuando com a comparação, o Clip não tem a complexidade e a sofisticação do Royal Palmeira, nem a pureza e a frescura mineral do Quinta do Ameal ou do Muros Antigos. Mas tem o que se espera de um bom Loureiro: aroma expressivo e fresco (cítrico e com fragrâncias de jardim), finesse e sabor delicado e uma acidez vibrante. Se fosse um pouco mais seco de boca (com fruta menos doce), ainda seria melhor. Mesmo assim, é um vinho altamente recomendável. Como estreia, não se podia exigir muito mais.

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