Três doentes operados no Algarve perderam parcialmente a visão

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Clínica de Lagoa está ser alvo de investigação PEDRO CUNHA

Mulher operada aos dois olhos tem prognóstico muito reservado. Bastonário dos médicos acha que operação bilateral é "má prática clínica"

Já não há esperança para três dos quatro doentes operados às cataratas na clínica algarvia I-QMed e que estavam a ser tratados no Hospital dos Capuchos, em Lisboa. Apesar dos esforços da equipa de oftalmologia, confirmou-se o pior cenário: perderam, de forma definitiva, a visão num dos olhos. A mulher intervencionada aos dois olhos em simultâneo (para a colocação de lentes intraoculares) ainda vai ser operada, mas o prognóstico é muito reservado, informou ontem o hospital lisboeta.

Ernesto Barradas e Michael Donovan, de 83 e 66 anos, assim como uma mulher de 82 anos, foram operados em Lagoa no dia 20 de Julho e estão internados no Hospital dos Capuchos desde dia 26. Da operação às cataratas resultou uma "infecção ocular grave", designada endoftalmite. Um risco que é de "um em mil", diz o presidente do colégio da especialidade de Oftalmologia da Ordem dos Médicos (OM), Florindo Esperancinha.

A equipa médica do Hospital dos Capuchos admitiu ontem, em comunicado, que estão "esgotados todos os procedimentos com o objectivo de tentar salvar a visão de três dos doentes operados na clínica I-QMed, em Lagoa". A outra paciente, Valdelaine, de 35 anos, "continua ainda sob tratamento", mas o prognóstico é "muito reservado". Todos os doentes estão a ter acompanhamento psicológico.

Luís Tomé, amigo de Valdelaine, garante que não tem muitas expectativas. "As probabilidades de ela recuperar a visão são poucas, dado o que aconteceu com os restantes três doentes. É importante perceber que a infecção dela era a mais grave! Se eles ficaram cegos, as esperanças não são muitas", defende. Valdelaine já planeava a operação há cerca de um ano e, depois de uma longa pesquisa, "encontrou a I-QMed através da Internet". "Ficou acordado operar apenas um olho, mas o médico resolveu fazer a cirurgia também ao outro", garante Luís. Os sintomas, sentidos também pelos restantes doentes, chegaram logo no dia 20. "Ela tinha muitas dores. Voltou à clínica três vezes, e eles apenas lhe receitavam uns pingos! A infecção continuou a evoluir", conta.

Para o bastonário da OM - que hoje vai abrir um processo de inquérito à actuação do oftalmologista -, a cirurgia bilateral (aos dois olhos ao mesmo tempo) devia ser considerada "má prática clínica". "É um excesso de risco", defende Pedro Nunes, que sublinha, porém, que esta é apenas uma posição "pessoal". A questão divide os especialistas: Florindo Esperancinha não concorda que se trate de má prática clínica, embora admita que não opera dois olhos em simultâneo. Depois de ter ouvido o oftalmologista holandês que operou os doentes, a Inspecção-Geral das Actividades em Saúde vai realizar duas peritagens, uma oftalmológica e outra de infecciologia. com Alexandra Campos

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