Produtor de Corrupção afirma que alterou montagem do filme por razões comerciais

Já se sabia que iria ser uma conferência de imprensa tensa. A apresentação do filme
que adapta o livro Eu, Carolina para cinema foi dominada pela polémica com João Botelho

a Faltaram os subsídios, faltou o apoio das televisões, faltaram alguns actores e, por fim, faltou o realizador. João Botelho não vai mesmo aparecer como autor de Corrupção, nem a sua mulher, Leonor Pinhão, que fez o argumento, assinará o filme, baseado no livro Eu, Carolina. Isso mesmo disse ontem aos jornalistas o produtor Alexandre Valente, admitindo que não gostou nem da montagem nem da banda sonora apresentada por Botelho, do ponto de vista da sua eficácia comercial.As 55 cópias que irão estrear, no dia 1 de Novembro, em outras tantas salas do país terão, assim, menos 17 minutos de filme do que a versão apresentada pelo realizador. E contarão com uma banda sonora, onde participam Pedro Abrunhosa e Tiago Bettencourt, que também não teve o seu assentimento.
Sem precisar as razões que levaram a estas alterações, o proprietário da Utopia Filmes - que surgiu na conferência de imprensa, convocada para a apresentação do filme, ladeado por Nicolau Breyner, Carolina Salgado e Rui de Carvalho - deixou claro que a primeira versão que lhe foi apresentada não cumpria com os objectivos financeiros definidos.
"Todos os realizadores são obviamente artistas, mas eu tenho um compromisso muito claro para com o público e a obrigação de pagar as minhas responsabilidades", disse, depois de sublinhar que aquele projecto envolve "muito dinheiro" e que ficou, desde o início, escrito que a palavra final pertenceria ao produtor.
"Acho que, de certa forma, já estava à espera que isto acontecesse. E daí termos celebrado com o João [Botelho] um contrato muito claro, logo no momento da sua contratação", concretizou. Questionado sobre o rumor de que teria sido negociada, em contrapartida, uma versão em DVD da responsabilidade do realizador de Tráfico, Alexandre Valente não foi esclarecedor, insistindo que não era isso que estava ali a ser tratado.
"Amei", diz Carolina
Numa altura em que o proprietário da Utopia Filmes já se mostrava agastado com tantas perguntas sobre a polémica autoria de Corrupção, acabou por ser Nicolau Breyner a sair em sua defesa. "A nossa indústria cinematográfica não está habituada a contratos destes. Mas eles não são nada de estranho, nem de perverso, nem de escondido", sublinhou o actor, que personifica o presidente do Futebol Clube do Porto, Pinto da Costa.
"Lá fora, é raro o filme em que não se corta tempo. E em Portugal os filmes têm muito tempo. Acho que o João é um belíssimo realizador, mas, se cortaram, cortaram", prosseguiu Nicolau Breyner, depois de assumir que não tinha ainda visto nenhuma das versões.
Na mesma linha, Ruy de Carvalho haveria de recusar a ideia da existência de qualquer censura. "Censura sofri eu no corpo. Não há censura nenhuma. Há cortes", salientou. Também este actor, o juiz de Corrupção, admitiu não ter ainda visto o filme.
Quem já viu e gostou foi Carolina Salgado. A antiga namorada de Pinto da Costa procurou desviar as perguntas do conflito entre produtor e realizador. "Se me autorizam, boa noite a todos", atirou, interrompendo Alexandre Valente. "Estão todos de parabéns", exclamou Carolina, antes de revelar a sua opinião sobre o produto final. "Adorei, amei."
O mesmo não poderá dizer a actriz que a retrata. Margarida Vila-Nova fez questão de divulgar um comunicado, ontem de manhã, onde garantia que não havia sido convidada para a apresentação do filme - ao contrário do que a Utopia Filmes anunciara. E que estava "solidária" com João Botelho.
Nas salas de cinema do país já é possível ver um cheirinho do filme Corrupção. "Utopia Filmes apresenta" - é assim que arranca o trailer, que em momento algum mostra quem assina a película. Qualquer semelhança entre Margarida Vila-Nova e Carolina Salgado é pura ficção - será mesmo? "Os homens do presidente já sabem que eu estou a escrever um livro", diz a protagonista. E logo a seguir vêem-se caixas e caixas de Eu, Sofia, numa adaptação perfeita da capa de Eu, Carolina. Nestes segundos promocionais, há pelo menos mais uma cena onde a semelhança entre as duas mulheres é notória. De resto, quem for ver o filme deve estar preparado para muitas cenas de sexo. S.S.C.

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