Na Aurélia de Sousa, "os professores são mais exigentes"

"Somos os primeiros?Yes!" Do outro lado do telefone, a professora da Escola Aurélia de Sousa, no centro do Porto, não disfarça o entusiasmo quando percebe que esta foi a escola pública mais bem colocada na lista de escolas que realizaram mais de 50 provas.

Compreenda-se a espontaneidade do recurso ao inglês: o ano lectivo que passou foi duplamente penalizador para a escola, porque, além da contestação ao regime de avaliação dos docentes, as aulas arrastaram-se em contentores provisórios, invadidos por um incessante matraquear de perfuradoras. "Estivemos empacotados os dois semestres e, em Agosto, as notas dos exames e as pautas de entrada tiveram que ser afixadas nuns monoblocos improvisados na rua", ri-se agora a directora, Delfina Rodrigues.

Valeu a pena. Muitos meses e 8,5 milhões de euros depois, a Aurélia de Sousa surge com mais salas, mais laboratórios, novas zonas de convívio e de desporto e já sem aquela austeridade natural num edifício de 1958, cuja rede eléctrica curto-circuitava sob a pressão dos computadores e cujos professores se moviam na superioridade dos estrados de madeira junto aos quadros de ardósia.

Com as obras, os professores podem ter descido do estrado mas continuam sem medo de conjugar princípios como autoridade e disciplina. "Para que cumpra a sua função, uma escola tem que ter regras de funcionamento muito claras. Tem que apelar ao rigor e isso pode ser feito numa combinação de assertividade e cordialidade, ou seja, as escolas não têm que deixar de ser afáveis para serem exigentes", enuncia Delfina Rodrigues.

Nos corredores, os alunos repisam a ideia de exigência. "Aqui é mais difícil tirar boas notas, porque os professores são muito exigentes", diz Ana Vieira, de 15 anos e aluna do 10.º. "Andei no Colégio Vieira de Castro até ao 7.º ano e quando cheguei cá senti que os testes eram mais complicados." A amiga Tânia Giesta, 14 anos, diz que está a repetir o 8.º ano porque estranhou a exigência quando chegou à Aurélia. "Andava numa escola de Gondomar e ali bastava chorar um bocadinho para a professora dar positiva. Não estava habituada a ter que estudar."

Por causa disto, a Aurélia de Sousa habituou-se a ter alunos que, chegados aos anos que antecedem a universidade, procuram escolas onde as notas não tenham que ser tão suadas. "Era aquilo a que eu chamava o êxodo pascal", lembra a directora.

Nos últimos anos, o fenómeno parece ter decaído. "Os alunos até podem ser prejudicados em termos de notas, mas os pais sabem que, nesta escola, as notas internas vão ser as notas dos exames, mais ponto menos ponto. E também sabem que as notas correspondem a conhecimento adquirido e que, uma vez na universidade, os filhos estão muito mais preparados para a concluir", sustenta Alexandra Azevedo, da associação de pais.

A estabilidade do corpo docente é outro dos factores que explicam a permanência da Aurélia nos primeiros lugares dos rankings. A par do reconhecimento de que "não há aprendizagem sem trabalho regular, esforço e disciplina", insiste a directora.

Não se confunda, porém, exigência com sisudez. A escola oferece actividades como teatro, fotografia, tiro com arco, xadrez, um jornal escolar. "Além de instruir, estamos a educar cidadãos numa perspectiva global", orgulha-se a directora. Que nega que a escola alguma vez tenha seleccionado alunos com base nas notas. "Isso é um atentado à verdade", reage, aproveitando para desfazer "a ilusão" de que ali desembocam miúdos das classes altas. "Esta zona oriental está a perder habitantes e, neste momento, recebemos imensos alunos de Gondomar. Temos, aliás, uma percentagem elevada de alunos subsidiados", garante.

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