Médicos colombianos nos centros de saúde dão resposta a 70 mil

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Maurício Avila, 31 anos, não conhecia Portugal MIGUEL MANSO

Os 42 clínicos foram contratados para trabalhar em 18 centros de saúde. Previstos mais médicos estrangeiros este ano

Quarenta e dois médicos colombianos começam esta semana a trabalhar em centros de saúde de Lisboa e Vale do Tejo e do Algarve mais carenciados, para ajudar a colmatar a falta de clínicos que se tem vindo a agravar devido à corrida às reformas antecipadas verificada em 2010. "Entre 65 a 70 mil utentes" vão passar, assim, a ter acesso a médico de família. Os 18 centros de saúde seleccionados nesta primeira vaga verão o seu funcionamento melhorado, destaca o secretário de Estado adjunto da Saúde, Manuel Pizarro, responsável pelo processo de recrutamento, que implicou um acordo bilateral, por três anos, entre o Governo português e o colombiano.

Apesar de nem todos terem a especialidade de Medicina Geral e Familiar, os clínicos possuem licenciaturas que já foram reconhecidas pelas faculdades de Medicina nacionais e estão inscritos na Ordem dos Médicos, depois de terem frequentado um curso de Português na Colômbia e de terem sido submetidos a uma série de provas e exames. "Foi um processo exigente e naturalmente demorado", explica o secretário de Estado.

"Esta não é a circunstância ideal, é uma solução conjuntural enquanto as medidas estruturais que foram sendo tomadas ao longo dos últimos anos - como o aumento de vagas para Medicina e da especialidade de Medicina Geral e Familiar - começam a dar resultados", defende. As colocações em Medicina Geral e Familiar aumentaram em flecha, tendo duplicado em relação a 2006 - este ano, ascenderam já a 345. Mas os novos especialistas demoram vários anos a ser formados. Perante um cenário de "dois ou três anos de grandes dificuldades", era necessário encontrar uma forma de dar resposta imediata às carências, acrescenta Manuel Pizarro. São carências que resultam de "erros do passado", como a limitação do numerus clausus nas décadas de 80 e 90.

A maior parte dos colombianos (29) vai para os arredores de Lisboa. Para Algueirão-Rio de Mouro estão destinados quatro médicos, para os centros de saúde de Odivelas, Almada, Arco Ribeirinho, Seixal-Sesimbra, Setúbal-Palmela e Amadora, três cada. Sintra terá dois e Cascais, Lisboa Oriental, Queluz-Cacém, Lisboa-Norte e Oeiras ficam com um cada.

No Algarve, o Centro de Saúde de Lagos é o que vai receber o maior número de colombianos (cinco), seguido do de Portimão (três) e dos de Loulé e Albufeira (dois cada). Para Silves vai um médico.

Apesar destas entradas providenciais, continuará a haver centros de saúde em situação difícil em vários pontos do país, nomeadamente nos distritos de Lisboa e de Santarém, reconhece o governante, acentuando que a tutela está a tentar resolver o problema através da vinda de novos médicos ainda durante este ano.

Não é, aliás, a primeira vez que o Estado português contrata médicos estrangeiros para colmatar falhas no Serviço Nacional de Saúde. Em 2008, 15 médicos uruguaios vieram trabalhar no Instituto Nacional de Emergência Médica e, no ano seguinte, chegaram 44 cubanos, que foram para centros de saúde no Alentejo, no Ribatejo e no Algarve. A maior parte continua cá, diz Manuel Pizarro.

Médicos reformam-se

A sangria de médicos (de família, sobretudo, mas também de outras especialidades) continuou nos primeiros cinco meses deste ano, de acordo com as listas da Caixa Geral de Aposentações. Neste período, já se aposentaram 421, o que representa um aumento de 132,5 por cento face a igual período de 2010. Em Maio, o SNS perderá mais 74, o dobro do verificado no mês homólogo de 2010.

A manter-se a tendência, o SNS deverá perder, no final de Julho, tantos médicos como em todo o ano passado (570). Para colmatar estas saídas, o Governo decidiu abrir um processo extraordinário para autorizar o regresso de clínicos. Há algumas semanas, a ministra Ana Jorge anunciou que foram autorizados 159 pedidos de médicos para se manterem em funções, mas apenas 22 por cento eram médicos de família. com João d"Espiney

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