Realismo, uma palavra para 2013

Depois do fracasso do experimentalismo, Portugal precisa de realismo e sensatez

Nunca a actual geração encarou o dia de Ano Novo com tanta incerteza e medo como neste final de 2012. Pela frente conseguem-se vislumbrar apenas uma certeza e duas incógnitas. A certeza é a de que o Orçamento é uma ficção incumprível que exigirá mais sacrifícios e transformará o quadro macroeconómico num pesadelo que vai avolumar o caudal de falências e de desemprego. As incógnitas resultam do impacte deste cenário na viabilidade do Governo e das linhas que força que vão orientar o futuro próximo da União Europeia e da moeda única.

Depois de dois anos de sucessivos PEC e persistentes aumentos de impostos, 2013 será a hora da verdade. Ou o Governo reconhece que o país está num poço sem fundo e, sem pieguices (para cumprir o discurso valente do primeiro-ministro), negoceia as metas do programa de ajustamento, ou vai ter de levar a cabo a já anunciada reforma, ou, mais exactamente, refundação do Estado. O primeiro caminho exigirá uma energia política que não se tem visto no plano externo e, principalmente, a admissão de que a teologia liberal do Governo fracassou. Se for pelo segundo caminho, ninguém consegue imaginar o que implicará um corte de 4000 milhões de euros em serviços públicos fundamentais. Adivinha-se, isso sim, que a persistência nesta via tornará a curto prazo o país num palco de protesto e de crise política. Não se vislumbra como vai o CDS apoiar mais uma ofensiva contra os serviços públicos. A probabilidade de o Governo cair é enorme. Depois, não se deve acreditar que o "aguenta, aguenta" do banqueiro Fernando Ulrich seja uma profecia sem limites. O protesto generalizado não explodiu, como exultam alguns, mas a raiva é larvar e o ressentimento contra o Governo não parou de se agravar desde Setembro.

Se tudo corresse pelo melhor, Portugal abrandaria o experimentalismo económico e social a que foi votado pela União e pelo Governo e entraria numa era de sensatez e de realismo político. É mais fácil fazer reformas, cortar custos, vender activos públicos, gerir melhor bens escassos, se não se condenar o país ao niilismo e ao desespero. Em 2013 é urgente uma pausa para respirar. Não perceber isto é não perceber os limites de resistência das democracias. Há empresas e empresários com energia e talento que não podem ser condenadas pela pressa da troika. Há instituições públicas ou privadas indispensáveis que não podem ser varridas do mapa colectivo apenas pela miragem de um número fixado para o défice. Nos próximos meses, mais do que génios o país precisa de gente sensata e realista.

O Portugal de hoje é muito melhor do que o de outrora. Tem outros trunfos para resistir às agruras e superar os seus erros. Não está condenado à desistência e ao empobrecimento. Esperemos pois que 2013 seja um ano para se reverem os mitos ideológicos ou obediências acríticas aos ditames externos. Um ano em que o país volte a acreditar que há uma janela aberta para o futuro, por muito duro que seja.

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