Os rios de vento

Foto

Esta crónica já foi escrita na nossa casa nova, enquanto decorrem as mudanças. Passam muitas andorinhas e há muito céu azul, mar, árvores, telhados.

E, sobretudo, ar. Indo já no nono romance da série Aubrey/Maturin de Patrick O"Brian, iludo-me que já percebo um pouco de ventos e da arte de navegar à vela, tal como se entendiam na Royal Navy no princípio do século XIX.

Aplico estas noções pretensiosas à criação de correntes de ar. As correntes de ar são maravilhosas. É preciso elogiá-las abertamente e negar qualquer defeito que lhe apontem. O povo, na sua desconfiada crendice, sempre com medo de tudo e mais alguma coisa, culpa as correntes de ar de causar grandes males, como pneumonias. Pelo contrário: as correntes de ar salvam vidas, soprando para longe as bactérias infecciosas. Ando pelo Norte, Leste, Sul e Oeste da casa nova, abrindo e fechando janelas e portas, até apanhar a minha deliciosa corrente de ar, fazendo-a seguir o caminho até onde estou. Não é preciso ter velas para ter a satisfação do comandante Aubrey, quando põe os ventos a fazer aquilo que ele quer.

No Verão e com o calor que agora começou, as correntes de ar são cada vez mais preciosas. Mas, mesmo com pouco vento, há sempre uma que se deixa apanhar. Sento-me mesmo no meio dela e não é como se estivesse dentro de casa: é como se estivesse lá fora, no mar.

As correntes de ar são como riachos de vento, que desviamos para dentro de nossas casas, para nos lavarem.

Sugerir correcção