Ódio sem razão

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Há ódios que nem às paredes se confessam. Não têm razão de ser. São injustificáveis. Revelá-los diz mal de quem os revela e, tragicamente, enaltece quem se odeia. O meu único ódio destes é pela actriz inglesa Carey Mulligan, pobre coitada, cheia de talento e que não me fez mal nenhum senão de ter de olhar para ela nos filmes que a contêm, com aquela cara de pudding, de que não tem culpa, e aquela franja de criança abandonada, de que tem. Pouco depois de a ter aturado em Shame, a fazer de chata num filme pouco menos chato, vi umas fotografias dela a fazer de Daisy Buchanan em The Great Gatsby de Baz Luhrmann, com Leonardo DiCaprio a fazer de Gatsby.

Scott Fitzgerald é tido em mais alta estima do que merece (é a tradução portuguesa mais curta de overrated). The Great Gatsby é provinciano, rebuscado e falsamente elíptico. Mas foi bem escrito.

Reli Fitzgerald o ano passado e continuei a saltar à vara por cima da prosa dele, incapaz de deixar de achá-lo uma perda - nem sequer elegante - de tempo.

DiCaprio, em contrapartida, é grossamente menosprezado como bom actor e verdadeira estrela de cinema. Pelo público, mais do que pelos realizadores. Mulligan até pode ser melhor actriz (não é) mas não é estrela nenhuma, nem quer ser.

Comecei por gostar dela, em 2005, no Bleak House da BBC (conhecido aqui em casa como Bolicaus). Agora odeio-a sem razão. Ou com uma razão que ainda não descobri, caso exista. Não mais procurarei porquê. É um ódio chato.

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