O desnorteamento do Bloco de Esquerda em Lisboa

O acordo celebrado entre o PS e Lisboa é gente tem funcionado, no seio da CML, com eficácia e com lealdade recíproca

1 Sou um socialista sem partido, que, nos últimos anos, se reviu em muitas posições do Bloco de Esquerda. Foi assim que integrei as comissões políticas das candidaturas de José Sá Fernandes à CML, que o BE e muitos independentes de várias orientações patrocinaram sob a sigla Lisboa é gente.2. Os resultados têm sido francamente animadores. Lisboa estava sujeita a interesses económicos especulativos e corruptos. Lisboa vivia à margem da lei, caminhando a passos largos para o caos urbanístico. Lisboa estava falida. Lisboa desertificava-se.
Hoje - sem esquecer as dificuldades -, o ambiente mudou radicalmente. Temos, finalmente, aprovadas as medidas que salvaguardam o Plano Verde de Lisboa, verdadeiro eixo central de uma nova política de ordenamento do território. Recuperou-se a legalidade urbanística e uma linha de planeamento responsável. Ganhou-se a frente ribeirinha. Salvou-se Lisboa da bancarrota. Integraram-se os trabalhadores com falsos recibos verdes. Extinguiram-se empresas municipais inúteis. Arrancou a reestruturação da EPUL. Combateu-se a corrupção. Garantiu-se a transparência e a eficiência nos concursos municipais e na gestão do espaço público.
3. Nem tudo é perfeito, nem sempre há uma completa sintonia e há ainda um longo caminho a percorrer, mas a verdade é que o acordo político celebrado entre o PS e Lisboa é gente - respeitando todos os pontos que esta considerara inegociáveis durante a campanha eleitoral - tem funcionado, no seio da CML, com eficácia e com lealdade recíproca. Lisboa está a ganhar.
4. É por isso verdadeiramente lamentável a posição que a direcção do BE tem vindo crescentemente a assumir em relação a José Sá Fernandes e ao acordo com o PS.
Começou, logo após a posse do executivo, com a afirmação absurda e politicamente incompreensível de que o acordo não seria repetido! Depois, têm sido os puros pretextos para desvalorizar o seu candidato e, pasme-se, para elogiar Helena Roseta, que, com a direita do executivo, inviabilizou, por exemplo, a reavaliação de todos os negócios pretéritos que envolviam a Bragaparques e não aprovou a iniciativa das reuniões descentralizadas que, a nível das freguesias, a CML tem vindo a promover.
5. Nos primeiros meses, o cavalo-de-batalha foram os falsos recibos verdes. Resolvido tal problema, buscou-se outra fonte de ruptura. Agora, a magna questão é a exigência da imediata extinção da Gebalis, ignorando a necessidade de aguardar as investigações judiciais que a envolvem e a dinâmica geral, em curso, de reestruturação das empresas municipais. Pelo meio, ficaram campanhas de imprensa que visaram atingir o carácter do seu candidato, com falsidades e deturpações acerca do seu relacionamento com o PS.
6. Infelizmente, os sinais são muito claros. A direcção do BE já não tem como prioridade a revitalização de Lisboa no quadro de uma união alargada com todos aqueles que, neste momento histórico, estão em condições de a levar por diante.
Tudo submete e sacrifica ao interesse partidário - politicamente mesquinho - de, na proximidade dos actos eleitorais de 2009, não aparentar qualquer ligação ao PS, por mais justificada que seja. A direcção do BE mostra o pior da política. Advogado
Registo de interesses: sou irmão de José Sá Fernandes

Sugerir correcção