Em vez de saudades

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Aprendo sempre, nas crónicas de Nuno Pacheco, coisas de fazer rir; coisas de ir a correr ler, ouvir ou fazer isto ou aquilo e coisas que me deixam triste, embora menos ignorante.

Na crónica na revista 2 do PÚBLICO de ontem, o Nuno contava a história da admirável Livraria Petrony em Lisboa, com exemplos concretos da sua valiosa originalidade. Descobriu que a Livraria Petrony, fundada em 1955, já não existe: "o mais estranho é assistir, em silêncio, ao desaparecimento físico de uma livraria". Imagine-se também a minha pena, porque nunca lá entrei, pensando que só tinha livros de Direito.

O Nuno insiste em falar das livrarias antigas que ainda há no Chiado: a Aillaud & Lellos, a Ferin, a Bertrand e a Sá da Costa. Há mais de vinte anos que não entro nessas livrarias, uma das quais foi como uma segunda casa para mim, por ter, nos anos 60, mais livros e revistas inglesas do que as outras. A Portugal morreu sem que eu lá tivesse voltado. Estava cheia de tesouros escondidos e nunca actualizava os preços, prestando-se a pechinchas de estarrecer.

Mal acabei de ler a crónica, fiquei decidido: hei-de ir às quatro, num mesmo dia, inteirando-me de todos os livros que têm. Fiquei contente por saber que a Ferin estava "ainda plena de vitalidade". A Ferin, no meu tempo, era um segredo, que não se contava a ninguém, para manter-se tal como era.

Agora é o contrário de um segredo: uma notícia urgente. Ainda está viva. Ainda lá se pode ir. Depressa.

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