cartas à directora

Foto

Novas oportunidades e velhas enormidades

Passando por cima do longo e rigoroso trabalho de avaliação do Programa Novas Oportunidades, levado a cabo ainda recentemente por uma equipa de investigadores da Universidade Católica, coordenada por Roberto Carneiro, o Governo decidiu acabar com este processo. Não para o substituir por um modelo mais ajustado e inovador, senão para ressuscitar o velho e desacreditado ensino recorrente. Para isso, socorreu-se de um estudo encomendado ao Instituto Superior Técnico (e quando é que se encomenda ao Instituto de Educação uma avaliação do Tagus Park?), onde se concluía que a participação num Curso de Educação e Formação de Adultos (EFA) ou num Centro de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (CNO) não produzia emprego nem promoção profissional ou salarial. Ora, se estas modalidades de educação-formação de adultos não foram criadas com tal objectivo, é natural que não produzam tais efeitos. (...) De facto, efeitos desejados por qualquer sociedade moderna, como ganhar maior auto-estima e autoconfiança, que permita encetar um processo de aprendizagem ao longo da vida, despertar a curiosidade e a vontade de saber sempre mais, iniciar-se na informática, adquirir uma maior consciência cidadã, passar a apreciar o estudo e a busca de novos conhecimentos e transmitir essa atitude aos filhos, etc., têm sido unanimemente confirmados naqueles e em demais estudos sérios e independentes realizados sobre este processo, desde que ele se iniciou em 2000, com a ANEFA. E, se ele surgiu, após decisão governamental de 1997 e uma fase preparatória e experimental, foi por clara necessidade de substituir o ineficaz e caríssimo ensino recorrente: um estudo encomendado em 1998 pelo Ministério da Educação sublinhava a desastrosa taxa de abandonos neste dispositivo, assim como o facto de um adulto que conseguisse terminar o 12.º ano por esta via ter custado ao erário público o mesmo que um estudante de Medicina.

Alberto Melo Corte Garcia, Loulé

Sugerir correcção