Bibliotecas do conhecimento

Por iniciativa de um dos mais lúcidos e criativos portugueses que conheci, Diogo Vasconcelos, foi criada em 2004 a biblioteca do conhecimento online, vulgarmente designada por b-on. Os cientistas e académicos nacionais, 300 mil utilizadores individuais, de 70 instituições integradas, sabem bem o que é, à distância de um click, obter artigos de 3500 revistas e livros publicados no mundo científico relevante, necessários para o acesso ao conhecimento em cada área. Este poderoso instrumento, praticamente esgotando todo o saber relevante, permite poupar recursos, tempo e energia que no passado consumiam cerca de um terço do esforço necessário a um doutoramento. Se as jovens gerações dificilmente materializam o progresso alcançado por este meio, quem preparou a sua tese em voltas por bibliotecas nacionais e estrangeiras, com malas carregadas de fotocópias preciosas, em excesso de bagagem, com visitas a locais insólitos, os únicos onde revistas caras eram assinadas, com recurso ao bem organizado, mas lento, sistema postal de fotocópias do Instituto Britânico, valoriza bem este fantástico instrumento.

O custo inicial estimado do b-on rondava os oito milhões por ano. Tratando-se de um típico bem público, inapropiável individualmente, com benefícios sociais marginais que extravasam o benefício individual, impunha-se que o pagamento dos seus encargos fosse público. Diogo Vasconcelos concebeu uma fórmula justa para a componente institucional desse pagamento.

Entretanto, as verbas para o ensino superior passaram a ser regateadas e drasticamente reduzidas. Ainda em 2011, foram deduzidos na dotação das universidades e politécnicos apenas, que não na dos restantes clientes, cerca de 1,6 milhões para comparticipar nestes encargos. No presente ano, 2012, esse valor subiu para 1,8 milhões. No orçamento para 2013, universidades e politécnicos viram-se perante um inesperado corte adicional de 6,5 milhões para custear parte desta despesa. Perante protestos de acumulação de cortes já cruentos e castigo unidireccional orientado para as instituições do ensino superior, o corte parece ter-se reduzido a 4,5 milhões.

Para além da insensibilidade orçamental em relação ao acesso universal ao conhecimento, confirmada por esta sobrecarga do ensino superior por despesa em um bem público, gerador de poderosas externalidades, permanece o sinal negativo dos incentivos que vai gerar. Universidades e politécnicos, acossados pelos cortes orçamentais acumulados, não terão outro remédio que não seja repercutir nos utilizadores esta despesa. O que criará um incentivo negativo ao conhecimento. Por esta via chegaremos ao tempo em que o acesso ao conhecimento será um bem privado, não um bem público. Quem quiser aceder, terá que pagar do seu bolso!

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