Série sobre Pablo Escobar bate recordes de audiência

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Escobar morreu em 1993: "Ele era mesmo bom, não era?"

Os produtores afastam a polémica e dizem que os episódios fazem justiça às vítimas. Também aviva saudades e gera simpatias

Quase 20 anos depois da morte do temível e famoso traficante de droga, milhões de colombianos sentam-se todas as noites à frente da televisão para acompanharem a série do canal Caracol Escobar, o Patrão da Morte. Conta a história do chefe do "cartel" de Medellín e como se tornou, durante os anos de 1980, o "rei da cocaína", que não hesitou em abrir uma verdadeira guerra contra o Estado colombiano.

O primeiro episódio da série, inspirada no livro A Palavra de Pablo (2001), de Alonso Salazar, foi visto por 11 milhões de espectadores.

"Todos nós nos lembramos de uma bomba de Escobar, todos nós vivenciámos um atentado, directa ou indirectamente", diz Juana Uribe, uma das produtoras da série de 63 episódios que se estreou há duas semanas. "Mas o que é importante e revelador - prossegue - é vermos o conjunto, como uma coisa pode influenciar outra. É a análise que nós, os colombianos, podemos fazer."

Juana Uribe garante que esta superprodução de 170 mil dólares (135 mil euros), rodada em Bogotá, Medellín e Miami, pretende apresentar "Escobar em todas as suas dimensões" e fazer justiça "aos que o afrontaram". Os dois produtores, Uribe e Camilo Cano, são familiares de duas das vítimas mais emblemáticas de Escobar: o ex-candidato à presidência Luis Carlos Galan e o jornalista Guillermo Cano, assassinados em 1989 e 1986.

"Este é um programa importante para as novas gerações que não têm conhecimento real de Escobar e que não irão certamente a uma biblioteca documentar-se", argumenta Andres Parra, o actor que dá corpo ao "capo" de Medellín.

O benfeitor

Em Medellín, onde Pablo Escobar foi um rei absoluto até 1993, quando foi morto pelas balas da polícia, ainda o consideram um benfeitor; sobretudo as classes mais baixas, que beneficiavam dos narcodólares. O actor Andres Parra deu-se conta dessa popularidade ao andar pelos bairros "deserdados" da segunda maior cidade da Colombia - situada a 400 km de Bogotá, a capital - que tenta virar a página dessa época funesta.

"Nestes bairros, sentimos o afecto e a nostalgia dos mais humildes e necessitados. Eles tiravam-me fotografias e agradeciam-me por desempenhar este papel", lembra o actor.

"Os jovens das zonas conflituosas estão fascinados com a série. Identificam-se com a personagem de Pablo", lamenta o padre Juan Carlos Velasquez, que trabalha na reinserção de jovens delinquentes em Medellín. "Um dia veio ver-me uma rapariga que me disse: "Meu padre, ele era mesmo bom, não era?"" Para o padre Velasquez, mostrar o percurso de Pablo Escobar, desde a juventude à ascensão fulgurante no mundo da droga, tem um risco, o de gerar empatia em relação a um homem acusado de mais de mil assassínios. "É certo que Escobar participou na construção de casas, de igrejas, de campos de futebol, mas na série não vemos todo o mal que provocou", lamenta o padre Velasquez.

Antigo responsável do sector social da Câmara de Medellín, Jaime Fajardo diz que a série televisiva se agarra demasiado às personagens quando devia centrar-se "nos problemas estruturais" ligados o tráfico de droga na Colômbia. "O que é grave não é contarmos esta história - diz -, grave é a possibilidade de ela se reproduzir." AFP

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