Resultados eleitorais abrem a porta à reforma da imigração nos EUA

Republicanos dispostos a negociar uma solução para a legalização de milhões de trabalhadores clandestinos. Barack Obama quer assinar uma nova lei no primeiro ano do segundo mandato

O arranque do trabalho legislativo para a reforma do sistema de imigração nos Estados Unidos, uma das prioridades enunciadas pelo Presidente Barack Obama para o seu segundo mandato na Casa Branca, já tem data marcada: logo após a tomada de posse e assim que for aberta a actividade do novo Senado, prometeu o líder da maioria democrata, Harry Reid.

"Quero aprovar uma nova lei de imigração no primeiro ano do meu segundo mandato", declarou Obama num debate eleitoral na Univisión, a cadeia em língua espanhola mais vista nos Estados Unidos. O Presidente lamentou não ter conseguido atender à situação dos milhões de trabalhadores clandestinos e imigrantes ilegais a viver nos Estados Unidos e prometeu pressionar o Congresso após a reeleição.

Impelidos pelos resultados eleitorais, que revelaram o divórcio das suas propostas políticas com as aspirações dos blocos ascendentes do eleitorado (leia-se, os hispânicos e os asiáticos), os republicanos abandonaram a sua anterior resistência e manifestaram a intenção de negociar uma solução. "Esta é uma matéria muito importante e que temos de resolver", respondeu o speaker do Congresso, John Boehner, em entrevista à ABC World News.

"Para nós é muito importante garantir a segurança das nossas fronteiras e o respeito pela lei", frisou o líder republicano. Mas Boehner, um congressista do Ohio, reconheceu que "o problema se arrasta há demasiado tempo" e que a chave para ultrapassar o impasse passa por "uma proposta abrangente" - uma expressão que abre caminho à legalização dos cidadãos que chegaram ao país sem visto de entrada. "Estou confiante que o Presidente, eu próprio e outros [no Congresso] conseguiremos chegar a um consenso que resolva este problema de uma vez por todas", declarou Boehner.

O senador democrata Chuck Schumer, que preside ao subcomité da Imigração na câmara alta, também manifestou o seu optimismo. "Julgo que a posição republicana será idêntica à assumida na questão do "precipício orçamental": há um largo número de republicanos que compreendem que se a sua posição de partida for ser contra - neste caso, não admitir alterar as quotas da imigração - não vamos a lado nenhum", referiu num encontro promovido pelo Christian Science Monitor.

Apesar da boa vontade expressa pelo speaker do Congresso, a solução pode não ser tão simples de encontrar: as anteriores tentativas, nomeadamente o plano avançado pelo Presidente George W. Bush, fracassaram por causa da oposição republicana. Os conservadores recusam as propostas de "amnistia", que consistem em atribuir vistos aos trabalhadores que apesar de clandestinos pagam impostos e não têm registo criminal.

Recentemente, os republicanos tentaram bloquear o chamado "Dream Act" de Barack Obama, uma lei que impede a deportação de jovens estudantes nascidos no estrangeiro mas residentes no país e educados no sistema de ensino norte-americano. A lei era defendida pelo senador republicano da Florida Marco Rubio (que da noite para o dia se converteu na maior esperança do movimento conservador para a expansão da sua base eleitoral), mas foi travada pela maioria da Câmara de Representantes. "O ambiente político é muito hostil", admitiu nessa altura John Boehner. Em Junho, o Presidente acabou por tornear a oposição no Congresso, assinando uma ordem executiva para a aplicação da lei.

Agora, os dreamers exigem uma solução permanente para o seu problema. "Mostrámos nas urnas a diferença que fazemos e agora esperamos ser atendidos. Em 2013 não vamos esquecer as promessas que nos fizeram", disse Daniel Rodriguez, um estudante de Direito do Arizona que foi trazido pelos pais para os EUA quando tinha sete anos, e um dos participantes numa conferência de imprensa da organização de promoção dos direitos dos imigrantes United We Dream. "Separar as famílias e deportar membros da comunidade é uma irresponsabilidade política. Não vamos desistir enquanto não for estabelecida uma solução definitiva, que tem de passar pela legalização", considerou.

Sugerir correcção