Morreu Lucian Freud, o realista irredutível

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Freud num dos seus auto-retratos DR
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Recordista no mercado da arte, cru na percepção do corpo, o pintor morreu em Londres aos 88 anos

No dia em que morreu, Lucian Freud ainda pintou. "Vivia para pintar e pintou até ao dia da sua morte, bem longe do ruído do mundo artístico", disse ontem o seu galerista, William R. Acquavella, confirmando a morte, quarta-feira e aos 88 anos em Londres, do realista Lucien Freud, um dos mais importantes pintores dos séculos XX e XXI.

Fervoroso pintor de nus, irredutível realista na torrente de abstracção que dominou o pós-II Guerra, uma doença curta e não nomeada causou a morte de Freud, em sua casa, fechando o ciclo da sua obra. "Trabalhava todos os dias num regime muito rígido" de várias sessões diárias, "estava muito ciente da sua própria mortalidade e sabia que o tempo era muito, muito precioso", dizia ontem à Associated Press Brett Gorvy, vice-presidente do Departamento de Arte do Pós-Guerra da leiloeira Christie"s. "Ele manteve a sua abordagem figurativa mesmo quando ela era muito impopular, quando a abstracção era o conceito supremo", constata Gorvy, "e com a passagem do tempo provou-se que a sua abordagem clássica era muito importante. Basicamente ele lutou contra o sistema e ganhou".

Nascido em Berlim em 1922, a família levou-o para Londres em 1933, antecipando a escalada do nazismo. Aos 17 anos naturalizava-se britânico. A sua primeira exposição em nome próprio foi em 1944 e hoje as suas obras estão nos mais importantes museus como a Tate e a National Portrait Gallery de Londres, o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque ou a Galeria Nacional, em Paris.

Os nus, retratos como Girl With a White Dog (1951-52) - a sua mulher grávida - ou o do amigo pintor Francis Bacon (1952), juntamente com os auto-retratos, são algumas das suas obras mais icónicas. E depois há os recordes. Benefits Supervisor Sleeping (1955) saiu em 2008 da leiloeira Christie"s com o preço mais elevado pago por uma obra de um artista vivo (23 milhões de euros) - comprado pelo milionário russo Roman Abramovich.

Era amante da crueza da carne, de corpos que queria que fossem pessoas. "Interesso-me muito pelas pessoas como animais", disse na Tate Britain em 2002, para depois explicar a vantagem do nu -"porque posso ver mais" delas. "Elas" tanto eram as suas filhas, amigos, familiares, mas também a rainha Isabel II (não sem polémica), o coleccionador Hans Thyssen-Bornemisza ou a modelo Kate Moss. Tinha de conhecer os seus modelos, em sessões longas. "Não quero usá-los para uma ideia que tenha e em que "vamos fazer aquela figura". Têm de ser eles - mesmo se fosse um seu gémeo idêntico não serviria de todo, se não o conhecesse", diz. Também para se conhecer: "Tenho uma forte propensão autobiográfica", assumiu.

Lucian Freud era neto do fundador da psicanálise Sigmund Freud e pai das escritoras Esther Freud, Susie e Rose Boyt e da designer Bella Freud.

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