Falhas de segurança e "liderança deficiente" no ataque de Bengasi

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Clinton aceita todas as recomendações do relatório

Relatório diz que houve falhas "de gestão", má coordenação e "confusão" sobre quem devia e podia tomar decisões

Apesar da dureza das críticas, a versão desclassificada do relatório ao ataque ao consultado norte-americano de Bengasi não nomeia culpados pelas falhas de segurança que levaram à morte de dois diplomatas, incluindo o embaixador do Estados Unidos na Líbia, e dois guardas privados. Mas fala em "fraca liderança" e as demissões começaram poucas horas depois de ter sido divulgado: segundo a CBS, o chefe da segurança do Departamento de Estado, Eric Boswell, demitiu-se; a Associated Press noticia esta demissão e a de dois outros responsáveis.

"Falhas sistemáticas e deficiências de liderança e de gestão ao mais alto nível nos dois gabinetes do Departamento de Estado resultaram numa postura na segurança da missão especial que era desadequada para Bengasi e totalmente desadequada para lidar com o ataque que aconteceu", lê-se no relatório da comissão independente formada a pedido da secretária de Estado, Hillary Clinton. Os dois gabinetes são o da Segurança Diplomática e o do Médio Oriente.

O Departamento de Clinton é criticado por ter falta de pessoal adequado na missão do Leste da Líbia e por ter confiado demasiado em milícias locais para guardar o complexo onde o embaixador Christopher Stevens acabaria por morrer por inalação de fumo, depois de ter ficado encurralado no edifício em chamas que tinha sido atacado por homens armados.

O relatório confirma que não existia "informação imediata ou concreta" que levasse a suspeitar de que um ataque estaria em preparação na noite do aniversário dos atentados do 11 de Setembro. Mas o painel de peritos concluiu que os responsáveis dos serviços secretos baseavam em demasiado o seu trabalho em avisos sobre ataques iminentes - em vez de se basearem em análises mais gerais sobre um contexto de segurança que estava obviamente a deteriorar-se.

Já este ano, a cidade onde começou a revolta contra Muammar Khadafi tinha sido palco de vários assassínios, de um ataque a uma coluna de veículos de diplomatas britânicos e da explosão de uma bomba no exterior da missão americana.

Os militares americanos de guarda ao complexo, sublinham os autores, "portaram-se com coragem e prontidão, arriscando as suas vidas para proteger os colegas". Mas a falta de recursos era gritante, pelo que parte da segurança estava nas mãos de guardas privados e milicianos "armados mas mal preparados".

A resposta do Governo líbio ao ataque é descrita como "profundamente deficiente" e uma das recomendações do documento é que os EUA não podem confiar tanto nas forças de segurança dos países onde têm as suas missões - com a maior rede diplomática do mundo, o país emprega 60 mil pessoas em 275 postos.

Clinton, que deveria comparecer amanhã nas audiências do Congresso sobre Bengasi (vai faltar por estar doente), aceita "todas" as 29 recomendações do comité independente. Em duas cartas enviadas às comissões de Negócios Estrangeiros da Câmara dos Representantes e do Senado, Clinton diz ainda que já começou a resolver as falhas e que vai mobilizar "centenas de marines" para proteger as representações diplomáticas.

Em plena campanha eleitoral, o ataque de Bengasi desencadeou uma tempestade política, com os republicanos a acusarem a Administração Obama de falhas de segurança e de ter mudado a versão dos acontecimentos. O ataque coincidiu com uma série de protestos em países árabes por causa do filme anti-islão Innocence of Muslims e a embaixadora norte-americana na ONU, Susan Rice, chegou a dizer que tinha resultado de um protesto. Na verdade, foi um ataque terrorista.

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