Ai Weiwei recupera liberdade mas não pode sair da China

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O artista chinês acusa o regime de "pura intimidação" MARK RALSTON/AFP

O conhecido artista e dissidente político continua sob investigação das autoridades e não pode sair da China

O artista plástico e dissidente político chinês Ai Weiwei foi ontem autorizado, pela primeira vez num ano, a sair da sua casa sem ter de informar previamente a polícia para onde se deslocava. "Se recuperar metade da minha liberdade significa que sou livre, então sou um homem livre", ironizou Ai Weiwei, que continua impedido de sair do país e continua sob a mira da justiça chinesa, por suspeita de "crimes económicos e outros", incluindo pornografia e bigamia.

Ai Weiwei viu ontem expirar o prazo da sua liberdade condicionada de um ano, que o obrigou a viver fechado em casa, num regime de prisão domiciliária - e dirigir, através de ligações por Skype, os trabalhos de instalação da sua mais recente colaboração com a dupla de arquitectos suíços Herzog & de Meuron para a galeria Serpentine, em Londres.

Ai Weiwei foi detido sem acusação a 3 Abril de 2011 quando se preparava para embarcar para o estrangeiro, e passou 81 dias em isolamento na prisão, até ser libertado sob "condições estritas". Enquanto estava detido, as autoridades chinesas anunciaram que tinha confessado um número de crimes, entre os quais evasão fiscal e branqueamento de capitais.

"Esta manhã fui à esquadra de polícia. A minha condicional já acabou, mas avisaram-me que os meus movimentos continuam limitados: a ordem diz que não posso sair da China, porque estou a ser investigado por outros crimes, como divulgar pornografia na Internet", confirmou o artista à AFP. Ai Weiwei não pode recuperar o seu passaporte, e foi aconselhado a não falar com a imprensa ou criticar o Governo.

Na quarta-feira, o artista não teve direito a assistir a uma audiência relacionada com o inquérito das autoridades tributárias à sua empresa de design, que fora acusada e intimada a pagar 15 milhões de yuans (qualquer coisa como 2,5 milhões de euros) a título de impostos devidos e multas. A empresa contestou a acusação e - surpreendentemente - o seu recurso foi aceite por um tribunal. Mas nem as testemunhas arroladas pela defesa nem Lu Qing, a mulher de Ai e representante da empresa, puderam falar na sessão judicial.

Mas as investigações a Ai Weiwei não pararam por aqui. As autoridades dizem que o escultor e fotógrafo, de 55 anos, é suspeito de pornografia e bigamia, e de câmbio ilegal de moeda estrangeira. O primeiro crime teria sido cometido em 2010 com a publicação na Internet de uma série de retratos nos quais aparecia despido, em pose com quatro mulheres também nuas. O segundo tem que ver com um relacionamento extraconjugal, do qual resultou uma filha.

"Isto é pura intimidação, é o regime a pressionar um cidadão para fazer valer a sua autoridade. Estou a pagar o preço por ter tentado comunicar livremente, por discutir e emitir opiniões críticas sobre vários assuntos", declarou à Reuters.

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