Sem filhos nem marido, Park vai-se "dedicar inteiramente" à Coreia do Sul

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Park Geun-hye disse sentir-se inspirada por personalidades como Margaret Thatcher ou Angela Merkel REUTERS

Aos 60 anos, a filha do antigo ditador Park Chung-hee faz história ao tornar-se a primeira mulher eleita para o governo. Regressa ao palácio presidencial de Seul para promover crescimento económico

A Coreia do Sul vai ser governada, pela primeira vez na história, por uma mulher: Park Geun-hye, a candidata conservadora do partido Saenuri, e filha do antigo chefe militar, Park Chung-hee, foi eleita Presidente com uma magra vantagem sobre o seu rival liberal Moon Jae-in.

As sondagens à boca das urnas colocavam a diferença entre os dois candidatos em apenas um ponto percentual, atribuindo 50,1% a Park Geun-hye e 48,9% ao seu opositor do Partido Democrático Unido. Com mais de 80% dos votos apurados, Park liderava com 51,6% dos votos, contra 48% de Moon, que concedeu a derrota antes mesmo de estarem contados todos os boletins.

Será o regresso à Casa Azul (palácio presidencial) de Park, que em 1974, após o assassinato da mãe por um "comando" alegadamente contratado pelo líder norte-coreano Kim Il-sung, assumiu as funções de primeira-dama do governo autocrático do seu pai - uma ditadura de 18 anos durante a qual o país experimentou a maior expansão económica da sua história. Agora aos 60 anos, a conservadora convenceu os eleitores que, pelo facto de não ter marido nem filhos, tem todas as condições para se "dedicar inteiramente ao país".

E não serão poucas as tarefas que a aguardam: a desaceleração da actividade económica, que viu o ritmo de crescimento de 5% constante nos últimos 50 anos cair para os 2%, e fez disparar a desigualdade de rendimentos com imprevisíveis consequências sociais; ou a beligerância da Coreia do Norte, que além de retomar os testes balísticos em desafio das resoluções da comunidade internacional tem vindo a inflamar a sua retórica contra o país vizinho, com quem permanece teoricamente em guerra.

"Confio totalmente nela, é a pessoa indicada para salvar o país, seguindo as pisadas do pai", comentou à Reuters Park Hye-sook, uma eleitora de 67 anos de Seul. "Esta vitória mostra como as pessoas têm esperança em ultrapassar a crise actual e recuperar a economia", sublinhou a futura Presidente, numa primeira reacção ao resultado eleitoral.

O principal desafio para Park será o de "quebrar o telhado de vidro" que continua a impedir as mulheres sul-coreanas de terem as mesmas oportunidades e receber os mesmos salários do que os homens do país.

Até se lançar na corrida pela presidência, Park foi uma diligente mas relativamente discreta deputada do partido Saenuri no Parlamento, onde chegou em 1998. Enquanto candidata presidencial, disse sentir-se inspirada por personalidades como Margaret Thatcher ou Angela Merkel, sem contudo justificar se os motivos da sua admiração são as políticas que estas líderes defenderam ou implementaram.

Para muitos coreanos, a futura Presidente ainda é definida politicamente em função do seu pai, que tanto é idolatrado por ter transformado o país numa das maiores potências industriais do mundo, retirando milhares de famílias da pobreza, como é diabolizado pelo seu desrespeito pelos direitos humanos ou as regras da alternância democrática. Park Chung-hee foi assassinado em 1979 - ao receber a notícia, a filha alegadamente terá perguntado como estava a situação na frente de guerra e se a fronteira estava segura.

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