a Nicolas Sarkozy interrompeu inesperadamente o seu cruzeiro no Mediterrâneo e regressou ontem à noite a França para acelerar a formação do seu governo, participando hoje, ao lado do Presidente Jacques Chirac, na cerimónia comemorativa da abolição da escravatura. Para lá da constituição da equipa governamental, Sarkozy está a ensaiar uma tripla ofensiva: manter coesa a direita, neutralizar o centrista François Bayrou e exibir uma abertura à esquerda, de modo a atenuar a sua imagem excessivamente conotada com a direita e suspeita de autoritarismo. Os estudos eleitorais mostram que não conseguiu penetrar no eleitorado tradicional da esquerda, mas está a seduzir figuras marcantes, de Jacques Attali, antigo conselheiro de François Mitterrand, a intelectuais como André Glucksmann, Pascal Bruckner ou Max Gallo, procurando também a adesão do antigo ministro socialista Claude Allègre.
O centrista François Bayrou, que obteve 18,6 por cento nas presidenciais, proporá hoje ao seu partido, a UDF, a transformação em Movimento Democrata, com um projecto de abertura ao centro-esquerda. Mas está relativamente isolado depois de a maioria dos seus deputados se ter passado para o campo de Sarkozy.
O Presidente eleito acaba de sofrer o primeiro "caso", com a revelação de que passou os seus três dias de repouso no iate de luxo do financeiro Vincent Bolloré, que costuma ser alugado a preços milionários. Pôs termo ao cruzeiro e esclareceu que ele "não custou um cêntimo aos contribuintes", pois foi convidado do financeiro. "Não tenho a intenção de me esconder, de mentir ou pedir desculpa", declarou.
Também Ségolène Royal enfrenta um "caso". Ela e o seu companheiro, François Hollande, líder do PSF, apresentaram queixa judicial contra duas jornalistas de Le Monde, por difamação e violação da vida privada. Num livro a lançar amanhã, La Femme Fatale, e de que Le Nouvel Observateur publicou extractos, Raphaelle Bacqué e Ariane Chemin dão conta de uma grave "crise conjugal" a propósito da candidatura de Royal.