Oposição xiita não conseguiu retomar a praça Pérola no aniversário da revolta no Bahrein

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Manifestantes fogem ao gás lacrimogéneo lançado pela polícia WIFAQ/AFP

Polícia selou partes da capital e prendeu opositores que saíram à rua contra a monarquia sunita

A antiga praça Pérola, epicentro dos protestos de 2011, era o objectivo dos manifestantes, quase todos jovens vindos das aldeias xiitas que cercam Manamá, a capital do Bahrein. Mas o aparato policial preparado pela monarquia sunita para o primeiro aniversário da revolta barrou-lhes o caminho: granadas atordoantes e de gás lacrimogéneo, tanques e arame farpado mantiveram inacessível a emblemática rotunda.

"Vamos todos regressar", anunciaram no Facebook os Jovens da Revolução de 14 de Fevereiro, uma coligação de activistas que não se revêem na oposição mais tradicional protagonizada pelo partido xiita Al-Wefaq. Ainda de madrugada a Reuters deu conta de escaramuças nos arredores da cidade, para onde as forças de segurança enviaram helicópteros e blindados. "Eles dispararam directamente contra nós, nem sequer estavam a disparar para o ar", contou à agência um manifestante enquanto fugia ao gás lacrimogéneo lançado pela polícia contra um grupo que tentara avançar por uma estrada que conduzia à praça.

Durante horas outros cortejos - alguns com centenas de pessoas - tentaram o mesmo, sempre com o mesmo resultado. "As saídas das aldeias estão bloqueadas, todos os automóveis estão a ser revistados", disse, por telefone, à AFP Mohamed Mascati, dirigente da Associação de Jovens pelos Direitos Humanos. O activista contou que dezenas de manifestantes, incluindo nove raparigas, foram detidos. O Ministério do Interior não fez comentários, mas a agência estatal noticiou a prisão de "um grupo de sabotadores".

Um jornalista da BBC, um dos poucos que conseguiu nos últimos dias visto para entrar no país, contou que na capital não eram visíveis protestos. Mas o regresso dos blindados às ruas, pela primeira vez desde que o estado de emergência foi levantado, em Junho, demonstra o receio das autoridades face a um reacendimento da revolta, um ano depois de a oposição, inspirada pelas revoluções na Tunísia e Egipto, ter montado um acampamento na praça Pérola.

Os protestos acabariam esmagados em Março, com a ajuda de tropas enviadas pela Arábia Saudita, e a estátua que ali se erguia foi demolida.

Num discurso na segunda-feira, o rei Hamad bin Isa al-Khalifa apelou à "coesão e reunificação" entre xiitas (a maioria da população) e sunitas (a elite que detém o poder) e prometeu continuar as actuais reformas. Mas a oposição quer mais do que alterações cosméticas: exige a libertação das centenas de detidos nos protestos, o fim da discriminação dos xiitas e a atribuição ao Parlamento do poder para nomear o Governo.

No actual contexto de tensão regional, a elite sunita acusa o Irão de estar a fomentar a revolta - ontem Teerão protestou contra uma manifestação hostil junto à sua embaixada em Manamá - e conta com o apoio tácito das monarquias do Golfo. Os EUA, que têm no Bahrein um importante aliado e porto de abrigo para a sua 5.ª Esquadra, limitaram-se a pedir "contenção" às duas partes, ainda que o Congresso não se mostre convencido com as reformas em curso, mantendo em suspenso um milionário contrato para a venda de armas ao país.

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