ONU admite "possível genocídio" de hutus na RD Congo

Os ataques "aparentemente sistemáticos" de forças ruandesas contra hutus refugiados na República Democrática do Congo "podem ser qualificados de genocídio", se forem provados por um tribunal competente. A "possibilidade de genocídio" é referida no relatório, ontem divulgado, sobre crimes no ex-Zaire, entre 1993 e 2003. O documento põe em causa países vizinhos que intervieram nas guerras do país, particularmente o Ruanda e o Uganda, mas também Angola e o Burundi, entre outros.

Os ataques contra hutus ocorreram depois da tomada do poder no Ruanda pela Frente Patriótica Ruandesa que, em 1994, pôs fim ao genocídio de cerca de 800 mil pessoas, sobretudo entre a minoria tutsi.

O conteúdo de uma versão preliminar do relatório, que faz o inventário de 617 crimes graves, fora noticiado no fim de Agosto por diversos media, mas a divulgação oficial foi atrasada para que os visados pudessem juntar-lhe comentários. Apesar de a ONU negar pressões, segundo a AFP a algumas passagens mais controversas poderão ter sido acrescentadas expressões como "aparentemente".

O Ruanda é acusado de, em aliança com as forças congolesas do então líder rebelde Laurent Kabila, pai do actual Presidente, Joseph, ter perseguido hutus. Ao Uganda é imputada a paragem, em 1998, das turbinas da barragem de Inga, que abastecia de electricidade parte da cidade de Kinshasa, o que provocou a morte de muitas vítimas vulneráveis. As forças do Burundi são acusadas de, em 1996, terem participado, ao lado de ruandeses e dissidentes congoleses, em massacres de civis, alguns dos quais foram queimados vivos.

Durante a sua intervenção, iniciada em 1997, os angolanos terão feito "operações de limpeza e execução" de suspeitos de colaboração com os seus inimigos, designadamente refugiados cabindas. O incêndio, pelo Exército do Chade, de 55 casas onde, em 1999, morreram queimados vivos 18 civis; e o bombardeamento de Kinshasa por forças do Zimbabwe, em 1998, podem também, segundo a ONU, ser considerados "crimes de guerra" devido ao elevado número de mortos civis.

As reacções mais enérgicas foram as do Ruanda e do Uganda. O primeiro começou por ameaçar retirar os seus 3550 soldados das forças de paz no Sudão, mas na semana passada confirmou que os manteria. Agora, referiu-se ao relatório como um "insulto à história".

O Uganda, que classificou o texto como um "condensado de rumores", mantém de pé a ameaça de retirar os seus soldados das forças internacionais, incluindo os 4300 deslocados na Somália. Angola e o Burundi rejeitaram "categoricamente" o relatório.

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