Justiça argentina ordena detenção de 18 figuras do regime militar

O julgamento dos responsáveis pela guerra suja continua a ser uma prioridade para o Governo de Cristina Fernández a A justiça argentina ordenou a detenção de 18 militares e polícias suspeitos de crimes de lesa-humanidade durante o regime militar (1976-83). Familiares e organizações de direitos humanos louvaram a medida.
Os suspeitos, mandados deter pelo juiz federal Sergio Torres, participaram todos, em maior ou menor grau, na violação sistemática de direitos humanos na Escola de Mecânica da Armada (Esma), um dos principais centros de tortura da era de Videla, Massera e outros.
A maior parte estava em liberdade apesar de referenciados como elementos activos da ditadura, que matou ou fez desaparecer 30 mil pessoas.
Os acusados são três oficiais, 12 marinheiros, entre eles Alberto Vigo e Edgardo Otero, suspeitos, só eles, de 318 crimes, e três polícias, incluindo Juan Carlos Fotea, extraditado pela Espanha no ano passado.
Pela Esma, convertida em Museu da Memória, passaram 5000 das vítimas da ditadura. A maior parte foram torturadas antes de serem mortas ou feitas desaparecer, em vários casos atiradas ao Atlântico.
Os suspeitos juntam-se a 25 outros cúmplices do regime, todos já acusados, como o capitão Alfredo Astiz, perseguido também em França pela morte de duas religiosas francesas, Léonie Duquet e Alice Domon, e o tenente Ricardo Cavallo, que a Espanha decidiu extraditar para a Argentina.
Uma vez sob custódia, os detidos serão internados em prisões comuns e não num estabelecimento militar, a prática que vinha sendo seguida, de acordo com a imprensa local. A decisão foi adoptada sábado por um tribunal para evitar casos como o do antigo torturador Héctor Febres, que em Dezembro apareceu envenenado na cela que ocupava num quartel, depois de dizer que tencionava contar tudo o que sabia.
A justiça não chegou a tempo para vários suspeitos, como Luis Jeringa Barrionuevo, apontado por vários crimes, falecido há duas semanas, ou o ex-tenente-coronel Paul Navone, outro antigo elemento da Esma, ao que parece também por suicídio. Jeringa (Seringa), enfermeiro ao tempo, ganhou a alcunha por "adormecer" pessoas antes de serem atiradas para o mar a partir de aviões.
O julgamento dos responsáveis pela guerra suja argentina foi uma das prioridades do antigo Presidente Néstor Kirchner. A sucessora, a sua mulher, Cristina Fernández, fez dele igualmente uma das suas. Familiares e organizações de direitos humanos louvaram a decisão do juiz Torres. F.S.

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