Hollande apresenta visão realista de esquerda e promete poupar a classe média francesa

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Hollande diz que "não promete aquilo que não pode cumprir" PHILIPPE LAURENSON/REUTERS

Candidato socialista defende aumento de impostos para os mais ricos e compromete-se com controlo do défice

Em velocidade de cruzeiro nas sondagens e com o principal adversário ainda fora da corrida, François Hollande apresentou ontem os seus "60 compromissos pela França". Um programa em que o candidato socialista às próximas presidenciais tenta conciliar a agenda de esquerda com o realismo económico exigido pelos eleitores em tempo de crise.

"Não prometo aquilo que não sou capaz de cumprir. Tudo o que está dito será feito", disse Hollande no arranque oficial da sua campanha - o tiro de partida foi dado no domingo, com um discurso em que traçou as linhas gerais do seu programa e falou dos planos que tem para o país se, em Maio, for eleito para o Eliseu. Ontem, o dia foi de concretizar essa visão, com 60 medidas destinadas a afirmar a credibilidade do seu projecto.

"Não serei o Presidente que tem de pedir aos franceses que compreendam por que tive de mudar de política", afirmou, explicando que as previsões de crescimento incluídas no manifesto - 0,5% em 2012 e 1,7% no ano seguinte - são "o cenário mais realista". Num piscar de olho ao centro, o candidato socialista propõe reequilibrar as contas públicas até ao final do mandato, em 2017, e apostar na competitividade da economia, sobretudo com apoios às pequenas empresas.

Para se apresentar como o "campeão de seriedade", como lhe chamou o jornal Le Monde , Hollande teve de rever algumas medidas do programa aprovado pelo PS em Maio - o objectivo de criar 300 mil postos de trabalho para jovens foi reduzido para metade. Mas no programa sobram ideias que agradarão aos eleitores de esquerda, a começar pela anulação das isenções fiscais concedidas por Nicolas Sarkozy às grandes empresas e contribuintes mais ricos, ou a criação de um escalão de 45% de IRS para quem ganhar mais de 150 mil euros anuais.

"A classe média não aguenta mais. Os únicos que serão visados pelas nossas medidas são os altos rendimentos", disse Hollande, falando em receitas adicionais de 29 mil milhões de euros que serão reinvestidas na economia ou usadas para equilibrar as contas. A agenda progressista reflecte-se ainda nas propostas para a banca - a separação do retalho das actividades especulativas e a subida da taxa sobre os lucros para 15% -, na prioridade dada à educação e habitação ou o alargamento do casamento e da adopção para os homossexuais.

Não foi preciso esperar muito pelas reacções da maioria, pressionada por uma nova sondagem que atribuiu a Hollande 60% dos votos numa segunda volta frente a Sarkozy. "Este é um projecto que põe em perigo o modelo social e a credibilidade da França", reagiu a porta-voz do Governo, Valérie Pécresse, enquanto outros dirigentes da UMP criticavam a aposta em "fórmulas esgotadas". Mas a resposta principal era só esperada para a noite, no debate entre Hollande e Alain Juppé, o ministro dos Negócios Estrangeiros transformado em batedor da campanha de Sarkozy, que tarda em oficializar a sua recandidatura. "Juppé não vai lá para comentar o programa socialista. O objectivo é abalar a credibilidade de Hollande", disse ao Libération um dos seus assessores.

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