Histórias de más relações com a polícia em Aulnay-sous-Bois

A sigla da polícia antimotim e o nome "Sarko" irrompem sem cessar nas conversas dos adolescentes

Um estudante francês de 13 anos tira do bolso um cartucho prateado de Flash-ball [arma usada com balas de borracha], apanhado algures na sua cidade de 3000 habitantes, Aulnay-sous-Bois, perto de Paris: "quarta-feira, os CRS [polícias] estavam em pânico, pediram reforços!", conta, fascinado.A sigla das Companhias Republicanas de Segurança (CRS, polícia antimotim) e o nome do ministro do Interior - Nicolas Sarkozy, "Sarko" - regressa sem cessar nas conversas dos adolescentes que "apanham ar", sexta-feira à tarde, no bairro Rosa-dos-ventos, longe da escola "em obras".
Quarta-feira à noite, jovens "incendiaram o posto da polícia e a garagem Renault", conta Fatou, 14 anos, adolescente negra, alta e magra, com cabelos entrançados que desaparecem num capuz. "Por um lado, tenho orgulho. Sarkozy não gosta de nós", diz ela. "Ele deixou-nos na miséria, é um racista, pôs... lenha na fogueira."
"Sarko procura sarilhos, ele encontra!", acrescenta um rapaz de 13 anos, com um aparelho dentário e uma sweat-shirt Boston.
Fatou - quarto de uma família de nove crianças, a mãe está "em casa" e o pai é "homem do lixo" - sabe muito sobre a morte a 27 a Outubro de dois adolescentes electrocutados num transformador onde se refugiaram porque acreditavam ser perseguidos pela polícia, por engano, segundo as autoridades.
"Um deles era meu primo", diz Fatou. "Quando soube da sua morte, o meu pai não dormiu, só pensava nisso. Os meus irmãos pegaram fogo a caixotes de lixo. Todos os confrontos, ali, são por causa destas duas mortes", considera.
"Não. Há muitas coisas ao mesmo tempo", atira o rapaz da camisola Boston, enumerando de uma vez "as provocações da polícia que nos controla por tudo e por nada, mesmo aos pequenos; muitos problemas; nenhuns meios, nada de nada para as cidades..."
Os adolescentes asseguram que "os que partem tudo têm 16, 17, 18, 19 anos... não são os verdadeiramente grandes". Aprovam depois quando um jovem de 22 anos vem afirmar: "Estava tudo calmo aqui há muito tempo. Se não fossem as palavras de Sarko [sobre a escumalha das cidades] nada disto teria acontecido".
Cada um tem a sua história para testemunhar as más relações entre jovens e polícias.
Billal, 13 anos, assegura que uma noite às 22h00, os polícias lhe "apontaram" com uma lâmpada e uma Flash-ball: "Estava no quarto andar, à janela. Disseram-me "entra em casa!" Mas eu já estava em casa", diz o rapaz de uma família de cinco filhos, em que o pai "trabalha - Hamdullah [Deus seja louvado, em árabe] - como condutor de máquinas".
Diante de um edifício, um adolescentes de 15 anos faz tempo antes de um treino de futebol. Evocando "os franceses com as casas boas", explica ter nascido em 1990 em Villepinte, no distrito de Seine-Saint-Denis, onde residem 1,4 milhões de pessoas de 80 nacionalidades: "nós, os negros e os árabes, não somos franceses, eles fazem diferença..."
"Durante os motins, estava em casa. Mas se não existissem os pais...", garante diante dos amigos. "A sério, queimar carros, nisso não têm razão, pedimos desculpa! Mas incendiar a esquadra está bem: os polícias mudaram de casa". AFP, em Aulnay-sous-Bois

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