Filho de Omar Bongo surge como príncipe herdeiro

As eleições presidenciais não deverão poder ser organizadas dentro dos 45 dias que a Constituição gabonesa estipula

A Se bem que formalmente se esteja numa República, todas as atitudes que têm vindo a ser tomadas nos últimos dias pelo ministro gabonês da Defesa, Ali-Ben Bongo Ondimba, de 50 anos, são as de quem se considera um príncipe herdeiro, prestes a ser sufragado num dos próximos meses pelos seus compatriotas.Mal terminaram na quinta-feira as longas cerimónias fúnebres do seu pai, Omar Bongo, que há 41 anos e meio se encontrava no poder, Ali-
-Ben começou a aparecer em todos os meios oficiais de comunicação ao lado da Presidente interina do país, Rose Francine Rogombé, que era a presidente do Senado.
Além de filho do homem que há mais tempo de tinha o poder em toda a África (ver caixa), ele é um dos vice-presidentes do todo poderoso Partido Democrático Gabonês (PDG), largamente maioritário no Senado e na Assembleia Nacional. Mais uma razão para assumir a pole position nas grandes manobras sucessórias.
De acordo com a Constituição, deveria haver eleições presidenciais, com uma só volta, nos 45 dias que se seguem à tomada de posse da presidente interina, que foi em 10 de Junho; mas a AFP já notou que será difícil cumprir o prazo, dado que os cadernos eleitorais terão de ser actualizados. Por isso, é possível que a ida às urnas só atire para os últimos meses de 2009.
Entretanto, muita coisa poderá acontecer, dados os múltiplos apetites pelo poder; a começar pela irmã mais velha de Ali-Bengo, Pascaline Mferri Bongo Ondimba, de 53, que era directora de gabinete de seu pai e geria a respectiva fortuna.
Ela própria ministra dos Negócios Estrangeiros de 1991 a 1994, gostaria agora que o próximo Presidente viesse a ser o marido, Paul Toungui, actual chefe da diplomacia, que desposou em 1995. Ou então o anterior companheiro: Jean Ping, que desde Abril do ano passado é presidente da União Africana (UA). "O vento das intrigas sopra nos corredores do poder", disse muito claramente, durante a oração fúnebre há dias proferida, o primeiro-ministro cessante Jean Eyeghé Ndong, que também é um dos vice-presidentes do PDG; e como tal um dos chefes de facção, ou barões do regime. Sexta-feira acabaria por se demitir, conforme a Constituição recomenda que se faça, sempre que haja um novo chefe de Estado, mesmo que interino. Mas horas depois já fora reconduzido e era anunciada uma pequena remodelação governamental.

Floresta de ambiçõesPierre Mamboundou, líder da União do Povo Gabonês (UPG), que nas presidenciais de 2005 ficou em segundo lugar, com 13,6 dos votos expressos, face aos 79,2 de Omar Bongo, deverá tentar de novo a sua sorte. Para além de uma boa meia dúzia de outros nomes que têm vindo a ser adiantados nos círculos políticos locais.
A tendência verificada até hoje em alguns países africanos é que os presidentes preparam os filhos para lhes vir a suceder - mas nem sempre este processo algo dinástico tem sido isento de percalços.
No Togo, quando em Fevereiro de 2005 faleceu o velho autocrata Gnassingbé Eyadema, que tomara o poder no longínquo ano de 1966, as Forças Armadas colocaram de imediato no seu lugar um dos filhos, Faure. Mas a condenação internacional do processo obrigou a que fossem organizadas eleições, quanto mais não fosse para salvar as aparências. E ele, de facto, ganhou-as.
Só que, um seu irmão mais novo, Kpatcha Gnassingbé, tem vindo a contestá-lo e em Abril último acabou por ser detido, sob a acusação de golpismo.
Já na República da Guiné (Conacri), quando em Dezembro do ano passado faleceu o Presidente Lansana Conté, uma parte do Exército, liderada pelo capitão Moussa Dadis Camara, assumiu o poder, de modo a evitar que ele caísse nas mãos do filho mais velho do defunto: o capitão Ousmane Conté, que viria a ser detido como figura importante do narcotráfico que actua na África Ocidental. Ousmane Conté viajava frequentemente entre Conacri e Bissau, duas cidades associadas a actividades clandestinas.
Jean Ping, de 66 anos, presidente da Comissão da União Africana, é uma das hipóteses para a sucessão de Omar Bongo

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