TV brasileira lança sistema próprio de medição de audiências

A SBT, a segunda estação de televisão mais vista no Brasil, contesta os dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) e vai lançar, a partir de Junho, o seu próprio sistema de medição de audiências televisivas em tempo real. Não é a primeira vez que o canal de Sílvio Santos demonstra a sua desconfiança face aos dados apresentados pelo Ibope, mas agora o empresário vai mais longe, ao concretizar um projecto que só na fase inicial de selecção das casas participantes na pesquisa já custou mais de um milhão de reais (450 mil euros). "O objectivo da SBT é comparar os números desta medição com os do Ibope e decidir assim a programação", explica o criador do sistema da SBT, Alfonso Aurin. Isto justifica-se numa estação onde são frequentes as alterações nos programas em directo, conforme os dados de audiência recebidos. Gugu Liberato, o apresentador de Domingo Legal, um dos programas mais vistos do canal - e um dos que mais se queixa dos números divulgados pelo Ibope -, costuma ignorar intervalos publicitários e encurtar as conversas com os convidados conforme os dados do Ibope (recebidos de minuto a minuto), que ele acompanha de perto.O director-executivo do Ibope, Flávio Ferrari, nega as acusações de enviesamento dos números a favor da Globo, principal concorrente da SBT. E defende que ter dois sistemas "é o mesmo que ter duas moedas: gera-se muita confusão". Ferrari explicou que a medição de audiências é normalmente assegurada por um único organismo em cada país e que anteriores experiências com mais do que um sistema, nomeadamente nos Estados Unidos e na Argentina, fracassaram.Em Portugal, a medição de audiências televisivas assegurada pela Marktest Audimetria merece a confiança das televisões. Esta é a opinião de Bruno Santos, director do gabinete de estudos de mercado e audiências e também subdirector de programas da RTP, que disse ao PÚBLICO "não existir qualquer dúvida" face aos dados fornecidos pela Marktest. O sistema em vigor é, nas suas palavras, "perfeitamente fiável". "Todos os canais e principais clientes estão de acordo com os valores apresentados", garante. O director de marketing da SIC, Raul Azevedo, confirmou aquela estação privada "não tem nenhuma razão para duvidar dos dados fornecidos pela Marktest". Mas assegura que não são um "dogma". A TVI optou por uma resposta indirecta. Fonte da estação disse ao PÚBLICO que o facto de as televisões privadas usarem nas suas promoções os dados fornecidos pela Marktest é o melhor indicador da confiança que neles depositam.O sistema tem, no entanto, limitações que afectam os canais da TV Cabo. O director de marketing e vendas da Sport TV, Vasco Perestrelo, afirma que o sistema de audimetria da Marktest para o cabo - Audicabo - "subestima claramente as audiências do canal". Perestrelo aponta como limitações o facto de a amostra do painel Audicabo ter um número insuficiente de lares com Sport TV e de não contemplar nem os mais de 50 mil estabelecimentos comerciais que são subscritores deste canal codificado, nem os cerca de 150 mil lares que o recebem via satélite.Na sua opinião, o sistema também não reflecte o número de pessoas que assistem a determinado evento em cada lar e por isso não contabiliza o fenómeno de agrupamento que os eventos desportivos em geral - e os jogos de futebol em particular - suscitam. Situação que já foi reconhecida pelo próprio presidente da Marktest, Luís Queirós, em Julho passado, quando a empresa divulgou um estudo sobre a audiência da Sport TV. Para já, a Globo - a maior concorrente da SBT - não se mostra preocupada com o surgimento de um outro sistema de medição de audiências no país. O director da Central Globo de Comunicação, Luís Erlanger, explicou que, por um lado, a programação da estação não é definida com base na medição em tempo real da audiência. Por outro, não vê o novo sistema como um verdadeiro concorrente do Ibope, na medida em que não é "independente". Em declarações ao jornal "O Estado de S. Paulo", Alfonso Aurin, defendeu o sistema da SBT, afirmando que a "medição será a mais transparente possível".O mercado publicitário também está atento. O presidente da Associação Brasileira das Agências de Publicidade (Abap), Sérgio Amado, já declarou que tudo o que possa ajudar a tomar decisões é "bem-vindo", mas que é impossível "não recear" um instituto financiado por uma estação de televisão.A partir do próximo mês, o novo sistema, o Adviser (ou Alfonsímetro, como já é apelidado em honra do seu criador, Alfonso Aurin) vai começar a recolher os dados de audiência em tempo real em 250 residências na área da Grande São Paulo. O Adviser é muito semelhante ao método usado pelo Ibope - ambos se baseiam no "peoplemeter" (aparelho ligado à televisão que regista que programa está a ser visto em cada momento e por quem) - mas terá um grande atractivo: a divulgação dos índices de audiência na Internet, gratuitamente.Além de medir audiência, o Adviser vai permitir a realização de pesquisas de mercado, fazendo o levantamento de dados qualitativos e quantitativos sobre vários produtos.

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