Os Simpsons, dez anos de sucesso

Apareceram pela primeira vez na televisão em Abril de 1987, mas só em Janeiro de 1990 ganharam o direito a uma série semanal. São os Simpsons, uma típica família norte-americana que conquistou o mundo. Estão agora a comemorar dez anos e ganharam uma estrela no "Passeio da Fama" de Hollywood.

Bart é um puto mal educado que odeia a escola. O pai, Homer, arrota sem cerimónias e gosta de vegetar em frente à televisão. A mãe, Marge, destaca-se pelo elaborado penteado azul e pela paciência (quase) sem limites. Lisa, a irmã mais velha de Bart, toca saxofone e é uma miúda sonhadora. E Maggie, a bebé, arrasta-se pela casa sem nunca tirar a chupeta da boca. São os Simpsons, uma típica família norte-americana. Vivem há mais de dez anos no subúrbio de Springfield e não mudaram nadinha.O desenho animado criado por Matt Groening cumpriu, no passado dia 14 de Janeiro, dez anos de transmissão televisiva ininterrupta e, para assinalar o feito, recebeu na passada semana uma estrela no célebre "Passeio da Fama", em Hollywood. Consta que, mais habituado a invectivar os parceiros a comer asfalto, o endiabrado Bart não se coíbiu, desta feita, de ser ele próprio a beijar aquele seu pedaço de chão. Não era caso para menos: "Os Simpsons" reclamam para si o recorde de permanência de uma série televisiva norte-americana no activo.Na verdade, o décimo aniversário que a 20th Century Fox está a comemorar - o programa, que se prolonga por todo este ano, prevê a realização de uma mega-festa de fãs aprazada para Outubro,"The Simpsons Global Fanfest Weekend Celebration" - é um falso aniversário. O bilhete de identidade da série refere que os Simpsons fizeram a sua primeira aparição televisiva há quase 13 anos, a 19 de Abril de 1987, no "show" televisivo de Tracy Ullman. Contudo, depois de vários meses em que estiveram limitados a pequenos "sketches" neste programa, só em Dezembro de 1989 a família mais popular de Springfield ganhou a sua série televisiva, que se tornou regular a partir de 14 de Janeiro de 1990.Reposta a verdade histórica, importa sobretudo referir que os Simpsons são hoje um fenómeno à escala mundial, que há muito ultrapassou os limites da simples existência televisiva (em Portugal, a transmissão dos episódios na RTP tem tido uma frequência atribulada...). Deram já o nome a uma marca de roupa e a outra de brinquedos, entre outros produtos, e o personagem principal, Bart Simpson, filho mais velho da família, viu-se transformado num cantor de rap e lançou um CD, "Do the Bartman". Mais do que heróis de banda desenhada, os bonecos criados por Matt Groening são, assim, autênticos ícones da cultura norte-americana.O culto em torno desta típica família é normalmente explicado pelo facto de satirizar o quotidiano do cidadão médio norte-americano. O retrato, ainda que bem humorado, é ácido e sem contemplações. Para além dos arrotos de Homer e do orgulho de Bart pela sua má carreira escolar, há um "mayor" idiota, polícias corruptos e empresários malévolos. O seu aparecimento representou um autêntico murro no estômago do moralismo e dos valores americanos, tendo a série sido severamente criticada pelas instituições religiosas e pelos conservadores, com a família Bush à cabeça. A própria mulher do então presidente George Bush disse que o desenho era a coisa mais estúpida a que já havia assistido. Mas se a reacção não deixou de ser satirizada pelos criadores da série num dos episódios (são inúmeras as sátiras envolvendo os diversos presidentes da história dos Estados Unidos da América), a verdade é que a vingança maior veio com o reconhecimento unânime da qualidade da série, apontada como precursora de outros desenhos animados que criticam o "american way of life" de forma bem menos comedida, como "Beavis and Butthead" e "South Park".De resto, Matt Groening não deixou de comentar, durante a cerimónia de inauguração da estrela dos Simpsons no "Passeio da Fama", a alegada má influência da série sobre as crianças americanas: "Uma das coisas que me dá mais prazer é perceber que até os miúdos que não sabem ler acham que os Simpsons são divertidos; as crianças demonstram que são mais espertas do que os adultos e, por isso, acho que a série é até uma boa influência".As peripécias da família do molengão trabalhador da central nuclear de Springfield prometem, entretanto, continuar. No próximo episódio que irá para o ar hoje mesmo nos EUA, Homer fica a cuidar da casa do patrão, o antipático Mr. Burns, e logo aproveita para se fazer passar por milionário, organizando uma festa. O episódio contará, como convidada especial, com a participação da mais recente estrela da pop norte-americana, Britney Spears, que assim se junta a uma monumental galeria de nomes famosos que, dando a sua voz a um personagem ou vendo-se caricaturados, se associaram já ao sucesso da série ao longo destes dez anos. Por lá passaram, e apenas a título de exemplo, actores como James Earl Jones, Danny DeVitto, Joe Mantegna, Brook Shields, Winona Rider, Michelle Pfeiffer, Meryl Streep, Kirk Douglas, Willem Dafoe ou Kim Basinger; estrelas da música como Tony Bennett, Sting, Ringo Starr, os Aerosmiths, os Smashing Pumpkins, os Ramones, os Red Hot Chili Pepers ou os U2; e personagens avulsas como Larry King, Magic Johnson ou Hugh Heffner (o patrão da Playboy). Uma galeria de fazer inveja.Quase doze anos volvidos sobre a primeira aparição, os Simpsons estão iguais a si próprios. Homer já foi à lua, Lisa já apertou a mão do presidente e Marge já teve que se chatear a sério com o marido. Mas o casal continua apaixonado, Bart permanece incorrigível, Homer não dispensa a cerveja, Lisa continua politicamente correcta e Maggie ainda não disse uma palavra. E continuam, todas as semanas, a correr para o sofá que fica em frente da televisão da casa da família até este tombar vergado pelo peso do ridículo da família média dos EUA e, se olharmos bem, de todo o mundo ocidental.

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