Casa de Serralves livra-se de fantasmas

Segredos do complexo processo de construção da Casa de Serralves são revelados hoje, em livro apresentado pelo arquitecto André Tavares

A "Fruto de associações, combinações, faseamentos e evoluções maturadas ao longo do tempo" e geridas pelo segundo conde de Vizela, Carlos Alberto Cabral (1895-1968), a Casa de Serralves é uma visita incontornável no Porto, independentemente até do museu de arte contemporânea e do seu papel de relevo no circuito da arte contemporânea. O histórico edifício recebe hoje, às 21h30, o lançamento de Os Fantasmas de Serralves, livro de André Tavares que propõe um olhar sobre os arquitectos responsáveis pela reformulação da casa - os franceses Jacques Émile Ruhlman, Jacques Gréber e Charles Siclis. A "diversidade" e "a falta de lógica de várias relações dentro de Serralves", aliadas ao "fascínio que decorre da corência do conjunto", deram o mote ao projecto, que durou sete anos a concretizar.André Tavares é arquitecto. Quando foi trabalhar para a Fundação de Serralves, em 2000, percebeu que não conseguia explicar a casa aos visitantes como pretendia. Precisava saber com maior exactidão "quem desenhou a casa", "descortinar a autoria", como o próprio explicou ao PÚBLICO. "Temos que nos livrar definitivamente desses fantasmas."
"Serralves é uma excepção que contradiz a própria lógica da cidade", lê-se logo no capítulo introdutório. A casa, "impecável e impoluta", pode hoje respirar, porque "os milhares de operários das fábricas de Carlos Alberto Cabral" construíram as suas casas "numa estrutura agrícola", que "não correspondia à pressão da indústria e da habitação operária".
Não é raro encontrar turistas de câmara fotográfica ao pescoço e mapa na mão a descer, no 207, da Campanhã à Foz. O dedo vai apontando Serralves na carta topográfica, enquanto os olhos procuram pela janela indícios de uma fotografia que demora em aparecer. Mas chega. Serralves é "como se fosse uma mancha imaculada na cidade. A cidade espúria e desqualificada está longe."

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