Um dia triste para o mais antigo clube de jazz do país

A terceira casa do Hot Clube de Portugal foi ontem forçada a fechar as portas. O primeiro clube de jazz do país completou seis décadas de actividade no ano passado. Foi a 19 de Março de 1948 que Luís Villas-Boas assinou a primeira ficha de sócio fundador, juntamente com o fotógrafo Gérard Castello-Lopes, o músico Artur Carneiro e Augusto Mayer.

"O Hot começou no número 66 da Praça da Alegria, onde está o Fontória, mas como a renda era muito cara, mudámos para a Duque de Loulé", recordou ontem Augusto Mayer, aos 83 anos, sobre as primeiras instalações daquele que arrancou nos primeiros tempos como um "clube privado". Mais tarde, por volta de 1954, Augusto Mayer arranjou o espaço da Praça da Alegria, onde também funcionava uma tertúlia tauromáquica. A cave do número 39 mostrou-se adequada ao espírito das "caveaux" de Paris, embora de início os ritmos jazzísticos se fizessem ouvir através do programa radiofónico Voice of America Jazz Hour.

"Vivíamos sempre na penúria", conta Mayer. As despesas eram pagas com as quotas dos sócios e "umas sessões" que começaram a atrair frequentadores mais assíduos. Dos momentos que ficaram na memória selecciona as actuações das orquestras de Louis Armstrong ou de Count Basie.

Para o jornalista e crítico José Duarte, 71 anos, o fecho ainda que temporário "é uma desgraça para o jazz em Portugal". Trata-se, conforme salientou, da única casa no país com programação regular de jazz, uma vez que outros espaços também acolhem outros tipos de música. Dos inúmeros serões passados no Hot, o divulgador radiofónico destaca a actuação da orquestra de Quincy Jones e ajam session que se prolongou noite dentro depois do concerto. "É um dia triste, porque envolve algum prejuízo, não tanto pelo espólio, que está a salvo, mas que também pode ajudar na procura de uma solução para o Hot Clube", notou Pedro Moreira, 40 anos, músico e ex-responsável pedagógico da escola de jazz, a funcionar na Junqueira, onde também se encontra o espólio de Luís Villas-Boas. Acervo que deverá fazer parte do projectado Museu do Jazz, que tarda em concretizar-se pelo facto de o Hot Clube estar na zona do plano de revitalização do Parque Mayer.

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