Pais, alunos e professores pintam Liceu Camões

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Acção destinou-se a chamar a atenção do ministério RUI GAUDÊNCIO

Escola é uma das que está em lista de espera para receber obras da Parque Escolar. Este fim-de-semana ficou só de cara lavada

Os plátanos eram balizas improvisadas mas não havia permissão para correr no átrio. Estava-se nos anos de 1950 e Raul de Almeida tinha pouco mais de dez anos. Aos 73, ainda se lembra do dia do protesto. "Sentámo-nos ao canto a fingir que fazíamos tricô. O reitor ficou nas galerias e mandou o Joãozinho das Perdizes ter connosco. Estávamos contra não podermos correr", recorda o antigo aluno. Hoje os estudantes do Liceu Camões, em Lisboa, têm outras razões para protestar, mas continuam sem poder correr ao ar livre.

Há sete anos que o campo de jogos da escola secundária está fechado. O muro que o circunda cedeu, a vedação partiu e o espaço foi encerrado. As actividades físicas para os 1150 alunos que frequentam a escola secundária estão circunscritas ao pavilhão e ao ginásio. Mas a degradação já chegou a todos os edifícios da escola centenária e começa a ser insustentável.

Ontem, alunos, pais e professores puseram mãos à obra. Decidiram pintar as paredes de 23 salas. "É uma limpeza simbólica, estamos a tentar lavar a cara", explica o director da escola, João Aires. A iniciativa serve de protesto contra a suspensão das obras da Parque Escolar, decidida pelo ministro da Educação. O Liceu Camões - o mais antigo de Lisboa - nunca teve obras de conservação e era um dos que estava em lista de espera para ser requalificado. A intervenção, que iria custar 18 milhões de euros, devia ter começado em Agosto.

No átrio, a música Só neste país, de Sérgio Godinho, inspirava o protesto. Munidos de baldes de tinta, lixas, rolos e aventais, as equipas dividiram-se pelas salas e a meio da tarde muitas paredes sujas da humidade já estavam tingidas de branco.

Mas a pintura das paredes não chega para resolver o problema. A cortiça que forra os tectos está a descolar, há candeeiros quase soltos a pender do tecto, a madeira velha do chão precisa de reforma, as janelas antigas deixam passar o frio, as persianas estão estragadas. A sala de aulas de geometria descritiva é a mais preocupante. "Temos 2500 alunos inscritos para os exames nacionais e não temos onde os pôr", lamenta o director.

"O problema é que não há um plano B", critica João Aires. O edifício construído pelo arquitecto Ventura Terra está em vias de classificação pelo Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico. "Que critério vai ser usado na hora de arrancar com as obras que faltam?", questiona o professor, sublinhando que o problema aumenta com a passagem do tempo.

A direcção pediu uma avaliação ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil , que atesta o "mau estado de conservação" do edifício. Os técnicos confirmam aquilo que salta aos olhos de quem por ali passa: paredes e tectos rachados, infiltrações. Mais: o edifício não deve sobreviver a um eventual sismo, sobretudo o ginásio, cuja estrutura apresenta uma "extrema vulnerabilidade".

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