Ascensor do Lavra faz 120 anos coberto de "graffiti"

O ascensor do Lavra, o mais antigo de Lisboa, comemora hoje o seu 120º aniversário coberto de "graffiti". A Carris não vai assinalar a efeméride com nenhum tipo de evento.Há dois anos que este ascensor e os seus irmãos da Bica e da Glória foram classificados como monumentos nacionais, bem como o elevador de Santa Justa. Todos eles devem a sua existência ao engenheiro francês Raul Mesnier de Ponsard, que se radicou no Porto. A legislação que os protege inclui também a protecção do meio urbano envolvente. Mais: segundo a lei do património, tal classificação "obriga o município, em parceria com os serviços da administração central responsáveis pelo património cultural, ao estabelecimento de um plano de pormenor de salvaguarda para a área a proteger". Na realidade, todas as ruas onde circulam os ascensores apresentam casas degradadas, embora em grau diferente, enquanto a Carris se tem mostrado impotente para resolver o problema dos "graffiti". "A transportadora pinta-os de amarelo e passado pouco tempo aparecem outra vez 'grafitados", conta um guarda-freios. Sem hipótese de serem guardados dentro de portas fora do horário de serviço, tornam-se presas fáceis para vândalos. "A mim é uma coisa que me custa", comenta o presidente da Junta de São José, freguesia que partilha com a da Pena a área percorrida pelo ascensor do Lavra. "A Carris devia limpá-los com mais frequência."O secretário-geral da empresa, Luís Vale, diz que esta não é uma questão linear: "Há vários 'opinion-makers' que consideram os 'graffiti' uma forma de arte". Partilhará a Carris dessa opinião? "Não. Mas é uma questão polémica. Estamos a estudar a aplicação de tintas que impeçam a aderência dos 'graffiti'". Luís Vale explica que o empenho dos "graffiters" é tal que, quando alguma estação televisiva estrangeira pede para filmar os elevadores, a única maneira de assegurar que se apresentam em condições é pintá-los na noite anterior, menos de 24 horas antes das filmagens. Vencer as encostas íngremes de LisboaO ascensor do Lavra foi inaugurado a 19 de Abril de 1884 para vencer uma das encostas mais íngremes de Lisboa: a que liga o Largo da Anunciada, junto à Av. da Liberdade e ao Coliseu, às imediações do Jardim do Torel e do Campo dos Mártires da Pátria. Trata-se de uma rampa com uma inclinação de nada menos que 22,9 por cento. A colina do elevador da Glória, por exemplo, fica-se pelos 17,7 por cento."O sistema de tracção então utilizado era de cremalheira e cabo por contrapeso de água e consistia em dois carros interligados por um cabo subterrâneo", explica a Carris num comunicado alusivo a este 120º aniversário. "Na parte externa das linhas existiam duas cremalheiras nas quais entravam os dentes de rodas dentadas fixadas nos eixos dos carros e cujo movimento era determinado pelo peso da água que era adicionada ao carro descendente e despejada quando este chegava ao Largo da Anunciada". Tendo igualmente utilizado o vapor como força motriz, o ascensor foi electrificado em 1915. Desde aí que os guarda-freios comunicam entre si por sinais de luz. Cátia Sofia, que exerce estas funções há dois meses, explica que é sempre o guarda-freios do ascensor que está na ponta inferior do percurso que decide quando é altura de ele subir e de o seu parceiro descer - seja porque já passaram os dez minutos de intervalo médio entre cada viagem, seja porque o carro está cheio. O sistema mecânico obriga a que, quando um ascensor sobe, o outro tenha de descer. Os sinais de luz são emitidos através das lâmpadas instaladas nos veículos. "Quando ele lá de baixo me envia uma luz forte é sinal de que devo descer, quando a luz é fraca é sinal de que ainda não tem passageiros suficientes. Nessa ocasião, se eu aqui em cima já tiver passageiros, respondo-lhe com uma luz forte. Se eu lhe apagar a luz dele significa que também não tenho clientes, e nessa altura ficamos parados, à espera que apareçam".Aos fins-de-semana, o ascensor do Lavra - que deve o seu nome ao vizinho palácio que foi de Manuel Lopes do Lavra, tesoureiro da rainha Isabel de Sabóia - é maioritariamente frequentado por turistas. Muitos deles vão ao engano: pensam que estão a subir ao Castelo de S. Jorge. Quando chegam ao cimo, nem castelo nem placas indicativas de coisa nenhuma. "Valia a pena colocar-se ali alguma sinalização", sugere o presidente da Junta de Freguesia de São José.

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