Abate de árvores em Sintra pode dar demissão

O presidente do conselho consultivo do Parque Natural de Sintra-Cascais (PNSC), Miguel Magalhães Ramalho, admitiu ontem demitir-se do cargo devido à inoperância daquela estrutura de consulta da área protegida. Magalhães Ramalho mostra-se "profundamente chocado" com o abate de árvores que está a ser levado a cabo no Parque da Pena. O derrube de arvoredo, para a criação de zonas de estacionamento, foi ontem mandado parar pela Guarda Florestal durante a manhã, mas à tarde a Direcção-Geral de Florestas (DGF), da qual dependem os guardas, suspendeu o embargo."Uma das hipóteses é sair, porque não vejo que aquilo sirva para alguma coisa", declara Magalhães Ramalho, referindo-se ao conselho consultivo do PNSC e à forma como a comissão directiva da área protegida ignora o órgão a que preside. Segundo o mesmo responsável, o conselho não foi consultado para as obras em curso nos parques históricos da serra de Sintra, "nem para outros problemas que afectam o Parque Natural", nomeadamente o polémico empreendimento turístico projectado para o Abano.Este técnico, que é vice-presidente do Instituto Geológico e Mineiro, deslocou-se ontem de manhã ao Parque da Pena para verificar o abate de árvores em curso desde segunda-feira. Os trabalhos, ordenados pela Parques de Sintra-Monte da Lua - empresa criada pelo Instituto de Conservação da Natureza, Ministério da Agricultura, Instituto do Património Arquitectónico e Câmara de Sintra - destinam-se à criação de parqueamento para entre 60 a 100 viaturas."Acho completamente lamentável e não percebo como é que, para uma sociedade que foi criada para gerir os parques - autênticas preciosidades que estão no Património Mundial - os valores fundamentais não são as árvores, mas lugares para os automóveis", critica Miguel Ramalho, acusando a empresa de preferir "ter aquilo como uma espécie de Feira Popular", em vez de travar a degradação paisagística da área protegida.Na segunda-feira o abate arrancou sem que a DGF o tivesse autorizado e, alegadamente, sem o conhecimento do director do PNSC. No entanto, ao fim do dia, o responsável da área protegida subscrevia uma nota à imprensa, juntamente com outro responsável da Parques de Sintra-Monte da Lua, na qual informava que o PNSC havia autorizado a limpeza do terreno e estava a analisar o projecto do estacionamento.Apesar desta posição, os guardas florestais ordenaram ontem a paragem do derrube e marcaram os exemplares abatidos. Segundo uma fonte da DGF, ao todo foram cortados "60 e tal árvores", entre as quais quatro dezenas de castanheiros, uma aveleira, três carvalhos, um acer (da família dos plátanos) e 14 pitosporos, uma infestante da serra de Sintra. Embora a Parques de Sintra-Monte da Lua tenha alegado que muitas das árvores se encontravam caducas e em mau estado, a mesma fonte dos serviços florestais adiantou que "apenas três castanheiros estavam secos". Além do auto levantado por corte de arvoredo na zona de protecção do perímetro florestal de Sintra, a guarda florestal tenciona ainda remeter ao PNSC outro auto por remoção de terras noutra zona do Parque da Pena.Carlos Neves, director da Parques de Sintra-Monte da Lua, contesta que a empresa tenha cometido qualquer ilegalidade, alegando que "a intervenção foi aprovada por todos os membros do conselho de administração, do qual faz parte a DGF". Garantiu ainda possuir uma autorização do PNSC para o corte da vegetação, e que a movimentação de terras decorreu das recomendações para protecção das árvores a manter. Ao final da tarde de ontem uma nota do gabinete do ministro da Agricultura informou que "a ordem de suspensão do corte e o levantamento do auto de notícia pela Guarda Florestal" se deveu "ao desconhecimento de que os trabalhos em curso integravam uma intervenção que tinha sido objecto de aprovação pelo PNSC". Após a correcção do "desfasamento verificado na comunicação" entre a Parques de Sintra e a DGF, a Guarda Florestal recebeu "instruções para suspender o embargo do corte". E conclui que o acompanhamento dos trabalhos por técnicos da sociedade e do PNSC "dá garantias plenas quanto ao seu adequado enquadramento ambiental e paisagístico".

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