Câmara do Porto fechou mercado, polémica continua

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O dia de ontem foi de desilusão para os vendedores Fernando Veludo/

A Polícia Municipal (PM) do Porto madrugou ontem. Às 6h30, já vários carros e agentes estavam à porta do Mercado do Bom Sucesso, para impedir que algum comerciante furasse a ordem municipal de encerramento do espaço. A porta principal nunca se chegou a abrir e, quando os primeiros vendedores começaram a chegar, foram confrontados com os agentes da PM, que apenas os deixaram entrar para retirar os bens.

A Câmara do Porto apresentou, no Tribunal Administrativo e Fiscal, uma "resolução fundamentada", invocando o "interesse público" para cancelar a suspensão do encerramento, conseguida com uma providência cautelar. Mas o processo promete não ficar por aqui visto que já entrou em tribunal uma nova providência cautelar, pelo que ontem não se sabia se o mercado reabriria hoje.

Para Maria Lima, já não interessa. Já chorou muito, já se alegrou momentaneamente, com a suspensão do encerramento, mas ontem tinha apenas um olhar zangado, enquanto arrumava caixas de morangos e maçãs na mala do carro. "Para que é que meti mercadoria ontem [anteontem]?", questiona-se. O marido sorri-lhe: "Quem sabe se ainda não abre outra vez?". Mas ela já não quer saber: "Se abrir, já não volto."

O sentimento parece ser comum a vários comerciantes, apanhados de surpresa pelo encerramento do mercado. O comandante da PM, Leitão da Silva, explica ao PÚBLICO que a autarquia "invocou o interesse público" para poder encerrar o Bom Sucesso, pelo que a sexta-feira já não foi dia de venda no interior do mercado. "Facultámos o acesso a todos os comerciantes que quisessem tirar os seus pertences e correu tudo de forma mais ou menos ordeira", diz.

Mariana tem as mãos cruzadas sobre o peito, do qual sai um lamento: "Isto foi uma sacanice. Ainda ontem perguntei ao chefe de mercado se devia meter coisas frescas ou não. Disse que não sabia de nada. Eu comprei pouca coisa, uma caixa de alface, uma de tomate, estava a palpitar-me que já não ia fazer aqui o sábado". Ao seu lado, António, indignado, diz que não sabe o que fazer das alfaces e pencas que comprou para vender, convencido de que o Bom Sucesso estaria aberto por mais algum tempo. "Deviam ter posto um letreiro, a dizer para tirarmos tudo, que hoje já não abríamos", protesta.

Nas traseiras do edifício, as peixeiras tentavam vender o peixe que tinham ido comprar à lota, indignadas por não as terem avisado de que não valia a pena. "Pior situação do que esta não podia haver. Os grandes é que fazem o país passar mal. A câmara merecia é que fôssemos para a porta deles", diz Ana Maria. O Mercado do Bom Sucesso vai ser transformado num espaço multifunções, com dois edifícios a construir no seu interior, para acolherem um hotel e escritórios, lojas para o segmento alto e 44 bancas de produtos gourmet.

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