Oposição do Nepal convoca protesto maciço contra o rei

Milhares de pessoas voltaram ontem a ficar feridas em Kathmandu, onde exigiram a abolição da monarquia

A aliança dos sete partidos da oposição nepalesa convocou ontem uma nova manifestação maciça para amanhã no palácio real de Katmandu, no dia em que mais 27 pessoas ficaram feridas durante os protestos contra o rei Gyanendra."Vamos organizar um protestos maciços depois de amanhã [terça-feira] e peço a todo o povo que saia à rua", declarou Bamdev Gautam, "número dois" do Partido Comunista Nepalês Marxista-Leninista Unificado.
Ontem, foi também dia de protestos, com milhares de pessoas a ignorar o recolher obrigatório imposto na capital, voltando a gritar palavras de ordem contra o rei Gyanendra. Mas o seu protesto foi menos intenso do que na véspera, quando 100 mil pessoas saíram à rua. Pelo menos 23 pessoas ficaram feridas, algumas delas atingidas por balas de borracha.
A oferta feita sexta-feira pelo soberano de entregar parte dos seus poderes a uma aliança de sete partidos não conseguiu desmobilizar o descontentamento, que vai já em 19 dias e que tende a radicalizar-se, com exigências de que seja abolida a monarquia.
"Polícias e soldados, vocês são nossos irmãos, abatam Gyanendra", pediu um grupo de manifestantes à polícia de choque que os tentava controlar. Por trás estavam os soldados que tinham ordem para disparar se o povo ultrapassasse as barreiras de arame farpado.
"Queimaremos a coroa e iremos liderar o país. Gyanendra, gatuno, deixa o Nepal", gritou a população, que cada vez mais revela sentimentos republicanos.
Ontem chegou mesmo a aparecer uma padiola de madeira com a efígie de um rei morto, a caminho da cremação. Houve também quem tivesse espetado um rato nos cabos eléctricos, com o letreiro "Gyanendra está morto. Deus é grande". E na cidade de Narayanghat, no Sul, foram dezenas de milhares as pessoas que protestaram contra o soberano.
Sábado pelo menos 150 pessoas tinham ficado feridas quando a polícia disparou contra a multidão.
"O rei está a enganar o povo", disse ontem Akkala Gurung, que segundo a Reuters tem vindo a participar nas manifestações desde o início e que afirma desejar uma "República democrática".

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