Pobre escola, tristes tempos

Dez frases banais e curtas ditas na TV (e um texto de referência) e a isto se chama "Reforma de Revisão curricular". Mais Português e Matemática, mais Ciências e mais História e Geografia. E mais horas.

Muito professores concordam, é menos desemprego. Os das disciplinas "eleitas", claro. E acredito que gostam do que fazem.

A minha reacção é negativa, tenho uma sensação de mais do mesmo que cheira a ranço.

Uma reforma curricular não é um "reajustamento" de horas, mas sim uma dimensão fudamental da escola que se deve articular com muitas outras: as equipas docentes , os espaços e equipamentos das escolas, as práticas pedagógicas e a avaliação inteligente ou sinistramente antiquada.

Há muito que se sabe que cada Governo não pode fazer a "sua reforma curricular". Trata-se de uma questáo que implica um amplo debate e compromissos de acompanhamento, de avaliação e de reajustamento. Isto nunca aconteceu entre nós, a politiquice dominando sempre a Política.

Dizem vozes cidadãs que os jovens têm que aprender a pensar. E aprendem a pensar com mais matéria, com mais datas e nomes e com mais exames? Aprender, aprender a pensar, a agir e a pensar sobre a acção, eis o que devia visar uma reforma curricular.

Esta não será com certeza.

A escola actual, a que o ministro Crato quer, nem prepara para o trabalho, nem para a vida, nem para a cidadania nem muito menos valoriza pessoas cultas, criativas, que gostam de ler e de aprofundar o que sabem. Que para isso precisem de bases sólidas, com certeza. Mas será este imenso desafio resolvido com mais do mesmo, com disciplinas separadas umas das outras, ritualizadas e isoladas ?

É isto a educação do séc. XXI? Esta "reforma" tosca e antiga, apressada e portadora de mais desorganização das escolas, enganou-se de século. Queremos pessoas ou soldadinhos de chumbo, todos formatados como se fossem só um?

Nesta "reforma" os responsáveis políticos assumiram a sua nostalgia do passado (saudades de quê? Da ignorância que ainda hoje pesa sobre nós?), assumiram o seu deslumbramento por escolas americanas, produtoras de exclusão e de violência...

O que aqui vislumbro é a escola de há décadas, com uma aparente nova terminologia.

A minha discordância é ética, ideológica, pedagógica e técnica. É um caminho condenado a prazo. E muito perigoso. Socióloga

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