Alunos já correm às explicações mas centros sentem a crise

Foto
Já há um ADRIANO MIRANDA

Maio é um dos meses em que os centros de explicações mais actividade registam. São sobretudo alunos do 12.º ano a procurar apoio

Com os exames nacionais à porta, começou a corrida às explicações mas este ano alguns centros que prestam apoio a alunos já estão a sentir os efeitos da crise. Continuam a ser sobretudo os alunos do secundário quem mais procura ajuda nesta altura, e especialmente a Matemática.

Explicadores e directores de centros ouvidos pelo PÚBLICO dizem que Maio e Junho registam dos maiores "picos" do ano e que a procura pode aumentar entre 30 e 50 por cento. Apesar de haver quem até relate aumentos na ordem dos 80 por cento, também há quem se queixe de uma quebra: "Por esta altura, noutros anos, já havia mais procura de explicações. Desde que se começou a falar no FMI, com as dificuldades financeiras, isto ressentiu-se...", diz Leonor Sousa, do Centro de Estudos da Boavista.

Ainda assim, este centro do Porto tem muita procura nas disciplinas de Matemática, Português, Físico-Química, Biologia e Geologia, sobretudo de alunos que se vão candidatar à faculdade. Neste espaço, para além de haver explicações individuais, existe uma sala de estudo acompanhado - onde os alunos estudam em grupos de oito a dez, orientados por dois professores -, que tem sido uma opção cada vez mais frequente: "Fica mais barato", justifica Leonor Sousa.

Segundo Nuno Gonçalves, que criou, com dois sócios, o portal Explicações Portugal, que estabelece a ponte entre alunos e centros e explicadores, a crise nota-se de duas formas: há menos procura em termos "globais", porque "em vez de procurarem ajuda em Setembro, muitos explicandos adiam a decisão até Janeiro", mas há mais procura da parte dos centros e dos explicadores: "Há mais professores que querem dar explicações para suprir dificuldades", afirma.

Apesar disso, este docente da Faculdade de Ciências e Tecnologia de Coimbra diz que continua a haver "três picos no ano" no que toca a explicações: um nesta altura; outro em Setembro e Outubro, no arranque do ano lectivo; e outro em Janeiro e Fevereiro, em que também há um "boom de explicações" a alunos do básico e secundário, "porque é o fim do primeiro período e é quando se sabem as negativas e as notas que se quer subir". Nestas fases, diz, a procura pode crescer "40 a 50 por cento".

Matemática é a disciplina em que os alunos mais procuram ajuda, "seja no básico, secundário ou superior". "Depois há outras, como Português, Inglês, Química e Física e Geometria Descritiva. No superior, [procuram] algumas cadeiras específicas de Engenharia, de Direito...", acrescenta Nuno Gonçalves, que também tem, com outros sócios, um centro de explicações e formação em Coimbra.

Também o explicador Bruno Leal garante ter, nesta altura, mais solicitações de alunos do secundário que querem ajuda a Matemática e Física: "Começa a aumentar no início de Maio e são mais os alunos do 12.º ano", nota, adiantando que o aumento será na ordem dos 30 por cento.

No Centro de Estudo Aqui há Saber, o número de estudantes disparou quando saíram as notas da Páscoa: "No terceiro período tivemos um aumento de 80 por cento de alunos", conta Ana Lima, da administração do centro em Odivelas. Já o espaço Pipi das Notas Altas, em Lisboa, é uma excepção: "A maioria dos alunos já cá está. Agora só vêm os aflitos que acham que fazemos milagres de última hora", diz a directora, Ana Oliveira, que não tem sentido a crise.

No que toca a explicações, a Internet ocupa um papel cada vez maior. Vítor Pereira já dá mesmo mais explicações online do que presenciais: "No meu gabinete tenho 20, enquanto na net já são 30 e acredito que isto é o futuro", diz o professor que ensina Matemática a estudantes do 7.º ano ao ensino superior.

No sítio http://www.tiraduvidas.eu - onde se podem tirar dúvidas a mais de 300 disciplinas - já há 46.157 alunos e mais de 5000 professores inscritos. Rui Martins, da Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação, tem alguns receios sobre o uso da Internet, mas reconhece vantagens: "É mais barato e podem tirar-se dúvidas a qualquer altura e em qualquer local".

No caso de Bruno Leal, as explicações que dá no Porto sobretudo a estudantes universitários - de Métodos Quantitativos, Investigação Operacional, Estatística, Econometria, Matemática, Álgebra e Química - continuam a ser mais requisitadas: "As explicações online são pontuais e são mais procuradas por alunos do superior, para tirar dúvidas nos exames, rever trabalhos... Nunca tenho mais do que três ou quatro trabalhinhos por mês", diz o autor do blogue http://www.explicacoes-online.blogspot.com/ que, assim, já apoiou estudantes dos Açores ao Algarve. com Lusa

Sugerir correcção