Despejos à força de centenas de pessoas onde será erguido maior hotel de Luanda

a Luanda voltou ontem a assistir ao despejo forçado de centenas de famílias que ficaram ao relento quando as suas casas foram demolidas numa acção que contou com a intervenção de "um grupo de militares" do Exército "fortemente armado". Pelo menos 400 famílias de antigos combatentes e desalojados de guerra foram forçadas a sair das suas casas na antiga escola militar Comandante Gika, no centro de Luanda - onde será construído o maior hotel de Angola. Estas famílias juntam-se às mais de 20 mil pessoas despejadas à força em vários bairros da capital angolana entre 2002 e 2006. Ontem, o presidente da comissão de moradores Ramos Pinto (que não é militar) foi detido pela Polícia Militar quando estava reunido com o Conselho de Coordenação dos Direitos Humanos (CCDH).
Em comunciado, este organismo da sociedade civil descreveu uma situação em que "as residências estão a ser destruídas juntamente com os haveres dos cidadãos" e explicou que a comissão de moradores "tem tentado dialogar com o governo provincial para ter uma contrapartida mínima de habitação".
O advogado David Mendes, presidente da CCDH, salientou ao PÚBLICO o facto inédito de esta acção envolver não a Polícia Nacional e as empresas privadas de segurança, como tem sido hábito, mas militares. É um "sinal de que estarão em causa negócios dos generais, que usam o Exército para defender os seus interesses", acrescentou.
O caso junta-se a outros despejos forçados, sem pré-aviso, numa cidade onde a maioria dos 4 milhões de habitantes vive em lares "informais" sem um título de propriedade que os proteja destes "abusos" denunciados pela associação angolana SOS Habitat e a Human Rights Watch.

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